terça-feira, 17 de novembro de 2009

A Vista Chinesa

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No século XIX, devido ao abate indiscriminado de árvores para alimentar os engenhos de cana-de-açúcar e pela extensão da indústria cafeeira, a Floresta da Tijuca quase desapareceu.
Contudo, a pronta reacção de D. Pedro II, que mandou replantar muitas espécies naturais, tornou aquela área de mais de 3,3 mil hectares, numa das maiores florestas urbanas do mundo, com uma flora rica e diversificada.
Ipês-amarelos, angicos e jequitibás abrigam saguis, quatis, tatus, tamanduás e uma profusão de pássaros, voando em total liberdade.

Era ao som dessas aves que Deo estava atenta, pois os conselhos repetidos, à exaustão, por Marcos Tupinambá, já a começavam a cansar…
Pela enésima vez, o brasileiro dizia, enquanto conduzia o carro, emprestado por um colega, pelo trilho ladeado de cachoeiras
“Tenha cuidado com o cara, moça. Se você acertou no palpite, ele já matou, no mínimo, cinco mulheres. E matar mais uma…”
A Vista Chinesa, ponto do encontro marcado nessa manhã, construída em homenagem à comunidade asiática e ao trabalho desenvolvido na plantação de chá em terras brasileiras, ergue-se num dos pontos mais altos da floresta, propiciando uma vista magnífica sobre a cidade, com destaque para a Lagoa Rodrigo de Freitas e toda a malha urbana que a rodeia.
Um ponto mágico, entre o inferno das favelas e a paz das alturas.

Deo extasiada com a visão panorâmica a que tinha acesso pela primeira vez, não se conseguia alhear de tudo o que se passara desde a sua saída do Copacabana Palace, nessa mesma manhã, na companhia do policial.

Quando mostrara a este o papel que lhe tinham passado, ele exclamara:
“ Vista Chinesa? 7 horas? Que significa isto?”
Em poucas palavras, mas sem entrar em detalhes, nem identificar as personagens, Deo contara-lhe tudo e ouvira a primeira chamada de atenção do dia.
“Nem pensar nisso é bom, Deozinha: O local é muito isolado e esse pessoal não está brincando, não…”
Muita conversa mole e persuasão depois, Marcos acedeu, desde que ele a levasse, ficando a vigiar por perto. E uma condição mais…
Que ela o deixasse colocar-lhe um microfone, para ficarem em permanente contacto, e ele poder avançar ao menor sinal de perigo.

Era nesse aparelhómetro que Deo tocava ao de leve, lembrando a atrapalhação do brasileiro quando, na colocação do micro, lhe pressionara os seios.
Uma sensação bem agradável, suspirou a detective, ensaiando, em tom de brincadeira: “1, 2, experiência…1,2…”
A vista lá em baixo era deslumbrante.
Deolinda, excitada, não deu pela sombra que se aproximava.
O forte empurrão fê-la voar sobre o murete de protecção e cair no vácuo.
Depois, fez-se escuro…

4 comentários:

  1. Deo! Deozinha!!
    Cadê você??
    "...entre o inferno das favelas e a paz das alturas", certamente... Deliciosa descrição, J.

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  2. Já é maldade parar a narrativa neste ponto!!!!!!!!!

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  3. Isto é Suspense, ou foi a "moça" que ficou suspensa?
    Porque herói, como já alguém disse, nunca morre...

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  4. Quero fazer aqui um "public statement", como diria o nosso Alvega...
    Nunca comento este "folhetim" porque, depois de um mês de ausência, e de ter perdido o fio à meada, estou à espera que o "Jaime Varela" publique isto em livro, talvez na Bizâncio...

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