sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A Menina da Cachoeira e vários Poetas Populares Brasileiros

Não é perfume,o que vem daquele pescoço
é a essência morena
de índia tapuia
banhada em cachoeiras
do seu, só seu interior.
Não é perfume,
mas dois olhos profundos,
a compreensão exata de ser dela
o tudo quanto quer ousar do mundo.


Anadora Andrade


Jerusa, creio, é cria de um romance entre o céu da Bahia
e o mar de Provence (E Provence tem mar?)
Mas Jerusa é a que não tem mal: liberdade, corpo, acção
Incorporação da beleza oral, visual, vital
É a pedra de toque, a onda em choque
que electrifica os ânimos da gente
É a cascata d’água fria caindo nas cabeças fundidas da Academia:
chuááááá
É essa cobra coral, sibila silenciosa,
serpenteando à cata de comida fresca
É a labareda flamejante que cega os olhos
pra que se possa ver o além-teoria, o alento, a magia
É o gosto da mangaba, a pimenta e a cocada,
a caipirinha e a feijoada
A rodada da baiana, o lamento da africana, o aboio nas savanas
É o mangue, a cidade, o porto, a saudade, o delírio e a amizade
No tabuleiro dessa baiana-desvairada-paulicéia tudo cabe:
O dendê, o labirinto, os bonecos do Mestre Vitalino,
a chita e a seda, o cordel e a princesa,
a valsa e o ruído, o choro e o riso
Só não cabe o que não for digno de sua inocência
Jerusa é a memória de um paraíso criado pelas mãos da fantasia:
lá habitam Dante, Haroldo, Bergson, Borges, Boris, Zumthor, Tom Zé
E mais: o canto da lavadeira, desespero das carpideiras,
o chorinho e as rendeiras.
Sem soberania nem distinção: apenas Amor, Paixão.

Armando Sérgio dos Prazeres







Menina-Água

Você surgiu
cai a chuva
dentro de mim
corre um rio
sem passado
nos meus pés

Poeta do meio






















Amores são águas doces
Paixões são águas salgadas
Queria que a vida fosse
Essas águas misturadas
Eu que já fui afluente
Das águas da fantasia
Hoje molho mansamente
As margens da poesia
Cachoeira da Vitória
Timbó das pedras de seixo
Vocês são minha memória
Correm em mim desde o começo
Quando o Subaé subia
Beijando o Sergimirim
Um amor de águas limpas
Nascia dentro de mim
E foi assim pela vida
Navegando em tantas águas
Que mesmo as minhas feridas
Viraram ondas ou vagas
Hoje eu lembro dos meus rios
Em mim mesma mergulhada
Águas que movem moinhos
Nunca são águas passadas
Eu sou memória das águas
Eu sou memória das águas.
Jorge Portugal
Fotos de Nuno Ricciardi

2 comentários:

  1. Os textos nem tanto mas as fotos são muito bonitas.

    ResponderExcluir
  2. Eu também acho isso.Procurei poemas que tivessem alguma ligação às imagens,mas não dediquei muito tempo à tarefa e o resultado final é para esquecer.Dommage...

    ResponderExcluir