domingo, 8 de fevereiro de 2009

O Pai do Zé Povinho

Numa altura em que tanto se fala no possível encerramento da Fábrica de Cerâmica Bordalo Pinheiro, nas Caldas da Rainha, ocorreu-me fazer um post sobre o Zé Povinho e o seu Autor.

Rafael Bordalo Pinheiro nasceu em Lisboa em 1846, numa família de artistas, tendo como irmão, Columbano Bordalo Pinheiro, e viria a destacar-se como desenhador, aguarelista, decorador, caricaturista, jornalista, ceramista e professor.
Em 1875, criou a figura do Zé Povinho, publicada na Lanterna Mágica, que se tornaria o símbolo do homem Português.
João Medina em "O Zé Povinho caricatura do Homo Lusitanus" afirma"...ele é paciente, crédulo, submisso, humilde, manso, apático, indiferente, abúlico, céptico, desconfiado, descrente e solitário...". Estão a reconhecer a figura ?
Assim como os ingleses têm o seu John Bull e os norte americanos o Uncle Sam, nós temos o nosso Zé Povinho que Bordalo Pinheiro viria a imortalizar em dezenas de cartoons, que então não se chamavam assim, publicados no António Maria, na Paródia ou nos Pontos nos ii, sempre criticando os problemas sociais e políticos da sociedade portuguesa e o povo português pela sua eterna revolta, embora pouco ou nada fazendo para alterar a situação. Onde é que eu já vi isto?
Mas também através da Cerâmica, RBP viria a criar figuras tridimensionais de grande impacto destacando-se, entre todas, a do Zé Povinho a fazer o seu característico manguito que representa a sua faceta de revolta e insolência, sem grandes resultados.


Tendo estado no Brasil onde colaborou com diversas publicações
e de onde enviava desenhos para vários jornais lusitanos, RBP, regressou a Portugal, quatro anos depois, para dirigir a Fábrica de Faiança das Caldas da Rainha, criando figuras populares como a Maria Paciência, a mamuda ama das Caldas, o Padre tomando rapé, o Polícia, o Sacristão entre muitos outros.

Em simultâneo, no Teatro desenhou Cenários e Figurinos,
para além de, com o seu traço fino, ilustrar críticas a todos
os espectáculos da capital
incluindo até pormenores e reacções do público presente.















A obra como Ceramista, talvez uma das suas facetas
mais conhecidas, engloba azulejos, painéis, frisos,
placas decorativas, floreiras, centros de mesa, bustos,
molduras, caixas e uma colecção muito vasta
de pratos com elementos agrícolas ou marinhos.


Muitas destas peças poderão ser vistas no Museu Rafael Bordalo Pinheiro, no Campo Grande 382,
embora o maior número delas estejam,
ou tenham estado, no Museu da Fábrica,
nas Caldas.
E é toda essa tradição e património que se corre
o risco de perder devido
ao provável encerramento da Fábrica.
Mas Portugal não é muito conhecido por se preocupar com a preservação da Memória ( basta ver o que está a acontecer à janela do Convento de Cristo, em Tomar).

E entretanto o Zé Povinho faz um manguito, encolhe os ombros e vai fumar mais um cigarrito...

Um comentário:

  1. Se em vez de Povinho tivessem escolhido algum boneco com o nome de Povo ou Povão, talvez as coisas corressem melhor.

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