quinta-feira, 14 de maio de 2009

Ida ao Cabeleireiro

Quando levantei o joelho do chão e consegui pôr-me de pé, senti sangue a escorrer pelas costas.
Num gesto involuntário levei a mão à nuca e voltei a desmaiar.

Olhei para aquele corpo amolgado a desmontar-se à minha frente e percebi de imediato que a calma do meu dia tinha terminado. Nem sabia quanto!
Tentei impedi-lo de cair, mas o melhor que consegui

foi fazer de colchão.
Mesmo amortecido pelo meu vison novo

– lindo de morrer – amolguei umas costelas…
Não conseguia sacudir aquele peso morto de cima de mim.
Respirei fundo e com a agilidade que tinha adquirido nos, poucos, anos de Dança Jazz no ginásio da Maggie, e do forro acetinado do casaco, escorreguei para fora daquela posição tão desconfortável.
Que dia para vir ao cabeleireiro…

Quando abri os olhos, uma luz insuportável espetava-lhes alfinetes.
Tentei perceber onde estava, se teria de proteger-me ou atacar, mas o meu corpo estava fora de mim ou era ao contrário?
Levei a mão à axila, mas não encontrei a minha companheira dos últimos dias…

Aquele estúpido polícia, por mais que levasse, não morria.
Era teso. Isso tinha que reconhecer. Burro, mas teso.
Não lhe queria enfiar um balázio na nuca, para não me relacionarem, mas não podia deixar que uma melga me prejudicasse o negócio e destruísse o disfarce de tantos anos!
Empurrei-o com o pé para não sujar o vison da Pam, que além de me ter custado uma pequena fortuna, iria – finalmente, ao fim de algumas semanas – garantir-me umas noites que sempre imaginei tórridas entre aquelas coxas fortes, que agora estavam à minha vista…
Que dia para ela vir ao cabeleireiro…

O meu instinto dizia-me para não me mexer, mas a testosterona
empurrava-me, para levar mais uma carga de pancada.
Estúpido orgulho “macho”!
E ainda por cima não encontrava a minha pistola…

“Se quiseres um trabalho bem feito, entrega-o a uma mulher!”
– Não sabia onde tinha ouvido isto, mas cada vez mais lhe soava verdade.
Enquanto me levantava e tentava compor-me,

nunca desviei os olhos do animal
que parecia hipnotizado pelas minhas pernas nuas.
Aproveitei o momento.
Apertei o gatilho da pistola, que tinha, sorrateiramente,

retirado do coldre de axila do meu parceiro.
O primeiro tiro foi bem no meio dos olhos.
O segundo foi apenas de confirmação…
Recolhi o vison e o Rick do chão, e dirigi-me ao som

das sirenes que já se faziam ouvir.

O pior, é que agora, tinha de mudar de cabeleireiro…


Thoma LaGraham

5 comentários:

  1. Inesperado mais inesperado não há. Do princípio ao fim. Cheguei a pensar que fosse do Feeling...

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  2. Importa-se de repetir?
    Vou ler mais uma vez e já volto...

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  3. Estranho.Não gostei, mas quem sou eu ?

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  4. Marau:

    É um leitor... mais importante não pode haver!

    Grato pela franqueza. É assim que se melhora.

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  5. Depois de duas leituras e umas achegas, percebi que este Thoma anda a fazer concorrência ao escritor, com pior feitio, do universo da Língua Portuguesa...
    Também(às vezes)no mau feitio! Embora de géneros diferentes...

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