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Quando viu Gabriela chegar ao Hotel acompanhada daquele panaca do portuga, Sérgio sentiu vontade de sacar da Beretta 98 que sempre o acompanhava, desde a compra efectuada em Itália, anos atrás, e descarregá-la sobre o casal que, um pouco sem graça se sentou, junto a ele.
Mas não fora cedendo aos impulsos, que ele ascendera, em tão poucos anos, à chefia do crime organizado no Brasil, por isso refreou os instintos e resolveu guardar a vingança, que não iria perder, para uma melhor ocasião.
Além disso, outras coisas mais importantes ocupavam-lhe a mente…
Por breves olhares, por frases encetadas mas não acabadas, por silêncios súbitos à sua chegada, apercebera-se que algo se passava entre os irmãos Chavez e o seu sócio Velic.
Desde que recebera o sobrescrito com as fotografias, Miltinho não pensava noutra coisa senão em dar cabo daquele”russo” que o quisera tramar.
Tinha a certeza que Velic, sabendo-o drogado, julgara que ele não se apercebera da sua presença na sauna.
Também ele reparara na estranha cumplicidade entre este e os venezuelanos.
Um plano, simples e básico, como eram todas as ideias que percorriam o cérebro do nordestino, foi ganhando forma…
Talvez fosse a maneira de se livrar dum problema e ajudar o Patrão a ganhar uma dimensão ainda maior.
Um sorriso matreiro esticou-lhe os lábios grossos.
Hans Hahn e os seus eternos óculos escuros, mergulhado em grossos relatórios que transportava para todo o lado, era a figura mais insólita á volta da piscina.
O corpo esquálido e branquelas parecia nunca ter sido atingido por um raio de sol tropical.
O calção de banho largueirão, já vira melhores dias.
Com os seu perfil de predador, Velic não disfarçava o olhar guloso com que despia Deo, reclinada numa pose provocante.
Não que houvesse muito para despir…
E sempre era uma forma de disfarçar, pois já reparara que o seu sócio brasileiro o tratava, desde a chegada dos venzuelanos, com uma frieza pouco habitual. E tinha mais que razões para isso.
Entretando os manos Chavez, que não entendiam palavra de português e não falavam nada em inglês, dialogavam entre si num espanhol de forte sotaque, recheado de jargão do submundo, impenetrável a todos os outros.
A viagem não lhes estava a correr como esperavam. Primeiro o interrogatório e agora uma impossibilidade de estarem a sós com o sérvio.
Até parecia que Sérgio desconfiava de alguma coisa.
E foi nesse momento que Marcos Tupinambá, o único policial honesto em toda a Baía da Guanabara, se aproximou da mesa, com o seu habitual andar gingado.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
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Agora acho que preciso de mais emoção. Isto está um bocadinho a patinar, ou é de eu estar a acordar?
ResponderExcluirSó acho que policial e honesto tem não...
ResponderExcluirno andar 'gingado' acredito piamente...
Ao fim destes anos todos, ainda estou para distinguir bem a fine line que separa panaca de bocó, e esses dois de babaca...
Parabéns pelo capítulo 41, J.V.
:-)
Ah, e à letra, Hans Hahn quer dizer João Galo... lol! :-D
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