quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Déjà vu

Eu: “Então, como te correu o dia?”
Ele: “Péssimo, nem me digas nada! Apanhei trânsito mal cheguei aos primeiros semáforos, no acesso para a ponte é que me lembrei que me tinha esquecido dos óculos de sol e que sem o GPS o dia ia ser mais complicado. Com isto cheguei atrasado,...”

O meu pensamento: “Lá está ele a queixar-se... já nem o estou a ouvir.
A seguir vai dizer que está cansado, e que dói-lhe qualquer coisa... homens!
Vou continuar a olhar para ele com os olhos bem abertos para mostrar que estou muito interessada na conversa... até vou parar de mastigar o bife para parecer mais convincente!
Sabe lá ele o que é que é péssimo!
Cá o meu hoje foi banal!
Acordei e percebi que estava com o período.
Quando assim é, o melhor mesmo é ir tomar um duche.
O calor abrasador do lado de fora da janela obrigava-me a vestir algo, fresco e leve...
Corri a casa à procura daquela saia e da tal camisola que não estava em lugar algum.
Vesti e despi várias soluções que acabaram num monte de roupa espalhada em cima da cama.
Saia encontrada. Vamos lá a despachar.
Oh não! Pêlos nas pernas... de volta à banheira!
Oiço gritar: “Oh mãeeeeeeeeee!”
Corro a preparar-lhe o leite e a vesti-lo.
Entre um “despacha-te” e um “apaga a televisão”, acabei de me arranjar, meti um pacote de bolachas dentro da mala,
mais uns tampões e a agenda que estava na sala. Papel da visita de estudo assinado e o lanche da tarde.
Ainda tinha 5 minutos, é melhor apanhar a roupa.
Mais um raspanete e uma conversa séria da importância de lavar os dentes.
Uma birra. Duas.
Não há duas sem três.
Uma nódoa na t-shirt acabada de vestir. Mãe que se preze não deixa isto ficar assim.

Troca de roupa. Mais uma conversa séria.
Luzes apagadas. Chaves na mão. Duas malas, dois sacos e a mão dele.
A conversa do costume. “come tudo”, “porta-te bem”, “presta atenção”, “não faças asneiras”.
O momento lúcido. Dar-lhe um beijo e um abraço, dizer que o adoro e virar as costas.
Fingir todos os dias que não dói.
Oito horas laborais. Um patrão. Um grupo de colegas de humores variáveis.
Um jantar para fazer, uma casa para tratar, um filho para amar, mimar e ralhar.
Um Trifene200 e um gole de água.
Agora só falta a história e o meu reportório de músicas para adormecer.

Nisto a pergunta dele interrompe o meu pensamento.
Ele: “Dói-me a cabeça. Vou-me deitar, tratas do resto?”

Abano a cabeça num gesto afirmativo.

Respiro fundo, o dia terminou e ainda há muito que fazer.
Todos os dias parecem um déjà vu.

Mas O AMOR É... assim.
Esquecendo-me de mim.
Faço tudo por ele.
Não por ti. Que se lixe o teu dia!

Meninadoceucorderosa

4 comentários:

  1. O dia a dia e a rotina da maior parte dos casamentos...
    ...Mas isto NÃO É O AMOR !!!!

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  2. Se calhar é o hábito!!!
    Está um bom desfilar da vida de mulher!!!

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  3. Eu gostei, parabéns Meninadoceucorderosa !

    e que o seu dia não se "lixe".

    :-)

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  4. Fazer tudo pelo amor e não pelo objecto de amor? é uma ideia...

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