quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Elementar, minha cara Deolinda ( ou será Deo?)

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Foi o JB, Jornal do Brasil, o único diário a lembrar-se de publicar as fotografias das cinco mulheres assassinadas, na primeira página.
E a conclusão, que saltava à vista, era óbvia – as cinco raparigas tinham idades muito próximas, rondando os vinte e cinco anos, pele morena, três eram mulatas e duas do norte de África, apresentando uma grande semelhança física, lábios grossos, olhos claros e cabelo encaracolado.
O assassino tinha um padrão, não escolhia as vítimas ao acaso.
Milhares de louras terão suspirado de alívio e igual número de morenas ficaram de sobreaviso.
Mas coube à Globo, a cacha do dia – todas as jovens tinham trabalhos ligados ao Grupo de Cassini e Ustinov.
Embora muitos destes negócios fossem semi clandestinos ou chefiados por um testa de ferro, o jornal tinha descoberto, através de testemunhos de colegas e outras fontes que não revelavam, que a jovem Nicolle, marroquina a trabalhar em Paris, a sedutora Miguxa, angolana de São João da Madeira, a viver em Lisboa, a sensual Paquita, tunisiana estabelecida em Madrid, e as duas mulatas, uma de Ribeirão Preto e outra de Belo Horizonte, a tentarem vencer na capital carioca, trabalhavam todas para os mesmos patrões.
Falar em coincidência era impossível, os crimes tinham ocorrido em quatro países diferentes e dois continentes.
A uni-los, para além do pequeno galo, agora existia o tipo físico das vítimas, a idade, as profissões ligadas directa ou indirectamente ao sexo e, também, a mesma entidade patronal.
Com pompa e circunstãncia, Sérgio Cassini e Velic Ustinov foram levados, algemados, à sede da Polícia Federal.
Menos de três horas depois, e com meia dúzia de telefonemas para as pessoas certas, saíram completamente livres e com vários pedidos de desculpas oriundas de fortes personalidades da política.
Não prestaram declarações aos diversos órgãos de comunicação social que os esperavam, mas um dos advogados serviu de porta voz.
“- É uma vergonha o que se faz, neste país, a empresários empreendedores que produzem riqueza e criam milhares de postos de trabalho”.
Alguns dos jornalistas sorriram, mas tiveram o cuidado de não serem demasiado ostensivos.
Nessa mesma tarde, Deolinda começou a fazer recortes de jornais, e a colá-los juntamente com papéis escritos, numa das paredes do seu quarto de hotel.
As frases isoladas não pareciam fazer sentido:
" A Turma do Galo Doido",“O Granizé da Bela Vista”, “Os Galos do Diabo”, “ Le Cocq Sportif” ou então “ navalha afiada”, “criminoso de guerra”, “misógino”, “homossexual no armário”, entre muitas outras ainda mais indecifráveis como “presente em todos os locais”, etc, etc.
Deolinda, nesse dia, não aceitou o convite de Marcos Tupinambá para ir tomar um picolé no Calçadão.
Talvez mais tarde, disse ela, sem mesmo saber o significado de picolé.
Se calhar alguma palavra estrangeira, pensou para consigo própria…
E, foi então, que ela descobriu quem era o autor dos Crimes do Galo.

4 comentários:

  1. Então a minha visita guiada ao Rio já está a chegar ao fim?
    Que pena...

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  2. Continuo na mesma..anda por aí um narizinho enganador !

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  3. Acho que conheci esse Cassini quando por lá andei... era o governador do Distrito Federal, under another name, gangster legítimo e com tudo em cima.

    ;-))



    Sensaciuonáu, seu J.V. !

    :-))

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  4. Muito bom. Essa da Deo a organizar a informação no quarto de hotel, parece mesmo de consultora!!

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