terça-feira, 21 de outubro de 2008

A lei das Compensações

"- Acorda paspalhão, já são quase oito horas!"
A voz esganiçada da Mulher provocou-lhe um arrepio na espinha.
Levantou-se, num pulo.
Dirigiu-se à cozinha.
"- Quero os ovos bem estrelados
e as torradas aparadas e com pouca manteiga!".
Ainda cambaleante, colocou tudo numa bandeja e retornou ao quarto.
"- O café está frio, idiota, e esqueceste-te do açucareiro!".
Mesmo no chuveiro, os gritos dela continuavam a ouvir-se.
"- A minha Mãe bem me avisou. Com tantos pretendentes,
logo fui escolher um desgraçado que não passa da cepa torta...".
Quando se foi despedir, ela ainda ajuntou:
"- Agora vê lá, se quando voltares para casa, não te esqueces de trazer as batatas, os grelos, e a comida do Tareco!".
Enquanto descia a escada, pareceu-lhe ouvir
ao longe, um"...banana!" mas não teve a certeza.
Em cinco minutos, fez o caminho até ao quartel.
Quando passou pelo sentinela este fez ombro arma.
Lançou-lhe um olhar furibundo e avançou até à Secretaria.
O Primeiro-Cabo fechou o jornal, apressado, quando o viu entrar.
"- Bom dia, meu Coronel!"
"- Qual bom dia, nem meio bom dia, sua besta...
Acha que o Exército lhe paga para você ler A Bola, seu desgraçado?
E não olhe para mim com esse ar de parvo...ponha-se em sentido, idiota!
E desapareça, antes que eu perca a cabeça...".

Só então se sentou, atrás da secretária
e o primeiro sorriso da manhã, invadiu-lhe o rosto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário