quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Carlos Paredes, o Músico dos mil dedos

Foi no antigo Cinema Alvalade, em 1963, que numa exibição dos Verdes Anos, do Paulo Rocha, no meio de um Filme todo voltado para o Novo Cinema, adaptação lusa da Nouvelle Vague, ouvi, pela primeira vez, os acordes celestiais, e a palavra não é exagero, da Guitarra do Carlos Paredes.
Lembro-me, vagamente, do enredo improvável, em que um jovem provinciano vem tentar a sorte como sapateiro em Lisboa( Júlio interpretado por um inverosímel Rui Gomes) e conhece uma empregada doméstica ( Ilda, pela ainda mais inconsistente Isabel Ruth) nas redondezas do Vává, ponto de encontro dos jovens cineastas da época.
Do Filme, ficaram apenas algumas imagens esteticamente bem conseguidas...mas a Música continua a a ecoar na minha cabeça, como se a tivesse ouvido ontem mesmo.

















"Enorme, desajeitado, com o seu eterno sorriso tímido de quem pede desculpa de existir. Sentou-se, aconchegou a guitarra a si,
agarrou-se à guitarra e a guitarra a ele, passaram a ser um corpo único, um só tronco de música e de raiva, de sonho e de melodia,
de angústia e de esperança, exprimindo por sons tanta coisa que nós não tinhamos palavras para dizer"
José Carlos de Vasconcelos








Carlos Paredes nasceu em Coimbra, em 1925, filho, neto, bisneto, sobrinho, de guitarristas eméritos.
Conhecido como O Mestre da Guitarra Portuguesa ou O Homem dos mil dedos, Paredes iniciou a sua aprendizagem musical através do Piano e do Violino, que viria a trocar pelo seu amor de sempre
- a Guitarra Portuguesa.










Militante do Partido Comunista Português, Carlos Paredes seria preso pela PIDE, e expulso da função pública, tendo depois voltado ao Ministério da Saúde, onde trabalhou toda a vida.
Entre os cineastas, para os quais compôs música, contam-se Pierre Kast, Jacques Doniol-Valcroze, Manoel de Oliveira, Jorge Brun do Canto, António de Macedo, José Fonseca e Costa, Manuel Guimarães e Augusto Cabrita.



Só em 1967 é editado o seu primeiro albúm, Guitarra Portuguesa, a que seguiu, quatro anos depois, Movimento Perpétuo, e em 1988, Espelhos de Sons.

"Já me tem sucedido fazer as pessoas chorar enquanto eu toco...E eu não compreendia isto, mas depois percebi que é a sonoridade da guitarra,
mais do que a música ou como se toca,
que emociona as pessoas"
Carlos Paredes

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