sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Má Vizinhança

Quando aquela família de negros,
Pai, Mãe, Sogra e dois Filhos
se mudou lá para o prédio,
o Aníbal viu logo,
que vinham aí problemas.

Os homens da compahia de mudanças
subiram as escadas com máscaras, batuques
e, até, um esqueleto.
Um autêntico horror...

Começou logo a imaginar festanças
até altas horas da noite,
macumbas, orgias satânicas,
danças com orixás,
sessões de espiritismo,
talvez mesmo, sacrifícios humanos.

Uma semana depois, tinha a certeza
que a banheira, lá em cima
servia já para plantação de marijuana
e o bidé, de papoilas opiáceas.
Que os vizinhos, era o mais natural,
seriam até canibais,
antropófagos, uma coisa dessas.
E ainda por cima sonsos,
Nada de barulheiras,
de ritmos selvagens.
Fumos, cheiros estranhos, nem sentir.
Visitas excêntricas, fora de horas,
nem uma.
Faziam tudo pela calada.

Os filhos passavam para a Escola
com as mochilas "Bom dia. Boa tarde"
cumprimentavam, sorridentes.
A velhota ia às compras.
O casal saía no carro utilitário.

O Aníbal jurou que os havia de apanhar...

Por isso, quando viu que o carteiro
colocara, por engano, na sua caixa
uma carta "deles", resolveu aproveitar.
O envelope dizia Dr.Simão Marangueta.
De certeza, era algum feiticeiro zulu
ou pior, nome de código
de qualquer Máfia africana.

À hora de jantar, subiu pé ante pé
os dois andares que os separavam.
Encostou a orelha à porta do vizinho.
pareceu-lhe ouvir, ao longe,
músicas de candomblé.
Ele estava certo. Tocou a campainha.

A senhora, de avental, veio abrir.
"Olá vizinho. Entre, entre...
O que o traz por cá?"
Entrou no antro de perdição e terror.
Na sala a avó via uma qualquer novela brasileira
vagamente inspirada no Jorge Amado.
Daí a música...
Os filhos no quarto,
faziam os trabalhos da escola.
Nas paredes posters do Harry Potter.
Instrumentos musicais
misturando tambores africanos
com um orgão eléctrico.
O dono da casa no escritório,
lia uma revista de Medicina.
A um canto,
o esqueleto montado.

Da cozinha vinha um cheiro delicioso
a Arroz de Pato.
O Aníbal entregou a carta, sem uma palavra.

Já pôs escritos.
...e quer mudar para outro Bairro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário