segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

When I was Fifteen...

Quando eu tinha 15 anos não havia Drogas, nem Shots, nem Hip Hop, Grafittis ou Discotecas ( chamavam-se bôites e as raparigas só iam acompanhadas pela Mãe ou Irmãos).
O Metropolitano, em Lisboa, fora inaugurado nesse ano, a Televisão, a preto e branco, começara dois ou três anos antes, e só emitia a partir das 6h da tarde e até antes da meia noite.
Quando eu tinha 15 anos não havia computadores, nem telemóveis ( os próprio telefones fixos em casa eram raros e recentes), MSM's, mails ou faxes.
Não existia a Ponte 25 de Abril (... nem a Salazar!!!), atravessava-se o Tejo de cacilheiro, demorava-se umas dez horas para chegar ao Algarve, e umas doze para o Porto.
Quando eu tinha 15 anos, os Liceus não eram mistos e no meu, o Liceu Camões, usava-se gravata e não se podia correr no recreio, com risco de ser chamado ao Reitor, o célebre Cabeça de Martelo ou de Bigorna, Sérvulo Correia.
Nas Festas de Aniversário, geralmente aos Sábados à tarde, bebia-se cup, uma espécie de sumo de várias frutas, com um ligeiro toque de álcool, ouvia-se o Elvis, o Pat Boone e Os Conchas ou para os francófonos, o Adamo, a Françoise Hardy e o Richard Anthony.
Quando eu tinha 15 anos ia-se ao Cinema, ao Império, ao São Jorge, ao Tivoli e ao Monumental. Salas enormes, foyer para passear durante os intervalos, poltronas confortáveis, películas esquartinhadas de toda a nudez, sexo ou política.
Eu que era um teso, ia ao Liz e ao Rex que passavam dois filmes pelo preço de um.
A Censura cortava as notícias dos Jornais e das Rádios, a Televisão era do Regime, os livros eram apreendidos, os Escritores presos.
Quando eu tinha 15 anos a Pide estava em todo o lado, nos cafés onde se estudava, nas salas de bilhar, nunca sabiamos em que lugar...
Mas podia-se andar à noite pelas ruas, os rapazes tinham mais liberdade que as moçoilas, sem perigo de assaltos. O trânsito era diminuto e engarrafamento era palavra desconhecida.
Quando eu tinha 15 anos, namorar era passear de mão dada com a prometida, dançar um ou outro slow, roubar um casto beijo ao dobrar de uma esquina.
A iniciação sexual era feita quase sempre nas casas das meninas, até nisso eu fui uma excepção, que se visitava como quem vai a uma livraria para ver a capa dos volumes expostos.
O 31 da Rua Luciano Corceiro, que tinha à porta uma placa "Madame Oliveira e suas Girls" era uma das casas chics. Os prostíbulos do Intendente eram autênticas espeluncas, sempre cheios de soldados e marinheiros.
Quando eu tinha 15 anos lia muito, Sartre, Camus, Caldwell, Steinbeck, Hemingway e sonhava muito mais ainda.
Só os muito ricos viajavam, e não se conhecia ninguém que tivesse ido à Ásia ou à América. O meu Avô materno tinha sido uma excepção porque fôra Oficial da Marinha, e eu tinha em casa testemunhos dessas idas a mundos estranhos, uma grafonola trazida de Hong Kong, uma cadeira de pau preto de Moçambique, jarrões e serviços de chá da China. Um manancial para a imaginação febril do adolescente que eu era.
Quando eu tinha 15 anos não imaginava que, anos depois, iria a todos esses lugares, já não tão misteriosos, e a muitos outros de que nem sequer sabia, nessa altura, a existência.
Nessa época não havia X-Boxes, I Pod's, nem sequer Spectrums. Jogava-se Poker, Sete e Meio, Ping Pong e Bilhar ( as raparigas não sei o que fariam) e falávamos horas intermináveis ao telefone, o preço da chamada era sempre o mesmo independente do tempo, com a dona do nosso coração. A música ouvia-se nos pick ups, que só alguns poucos tinham. Os discos eram de 45 rotações/minuto. Na Rádio o que estava a dar eram o Quando o Telefone toca, ou os Folhetins do Tide, para as Donas de Casa e empregadas.
Quando eu tinha 15 anos, começou a Guerra Colonial e os irmãos mais velhos dos nossos colegas a serem chamados para Angola, que Salazar dizia"É nossa!".
Pela primeira vez vi uma carga da Guarda Republicana a cavalo contra os apoiantes do General Delgado. Essas imagens ficaram para sempre na minha memória e aí começou o meu ódio à Opressão, à falta de Liberdade, à Ditadura, de qualquer cor ou sinal.
Quando eu tinha 15 anos, acreditava que podia mudar o Mundo, continuo a acreditar...
Quando eu tinha 15 anos, havia coisas melhores do que agora, algumas, e muitas outras muito piores. E eu, era então, muito menos feliz do que nos dias que correm.
Quando eu tinha 15 anos, a única vantagem era ter apenas 15 anos...

Nota do Autor: A fotografia lá de cima foi tirada na Costa da Caparica, onde costumava passar Férias, precisamente quando tinha 15 anos.
Eu sou o "magrelas" em baixo à esquerda, um pouco mais acima estão duas belezocas da época, as manas Isabel e Antonieta Bugalho Pinto, a seguir, toda sorridente, a minha amiga pr'á vida, Natália Gonçalo, depois um caixa d'óculos que não faço a mínima ideia quem seja e no topo, o meu copain da altura, o Tó ou Tótó, que, com os seus olhos verdes e sorriso faiscante, me roubava as miúdas todas...


4 comentários:

  1. Fifteen...cheio de lindas recordações de uma época em que se não se perdia tanto tempo a olhar para ecrans.

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  2. Mesmo quando se ia ao cinema, passava-se mais tempo a olhar para a companhia do lado do que para o ecran...

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  3. Para além da musicalidade, a lembrar um "leitmotiv" de uma obra daquelas que tu sabes que eu gosto..., este texto é também o retrato fiel daquele príncipio dos anos sessenta, ainda tão despreocupados e inocentes!
    A completar, o Paul Anka e a fotografia recuperada do fundo do baú...

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  4. Ainda bem que gostaste, estiveste sempre presente na escrita do mesmo...

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