O Pai, por exemplo, todos os Domingos, com sol ou chuva,
lá ia ver os jogos do seu clube.
Depois, acabou por se descobrir que tinha outra Mulher
e três Filhos, na Damaia, mas isso não vem agora ao caso...
Os Irmãos eram completamente maluquinhos pela bola,
liam três diários sobre o assunto, religiosamente,
sabiam o nome de todos os jogadores espanhóis, ingleses, italianos,
e, logicamente, de todos os nacionais.
Onde tinham começado, quando e como, os valores dos passes.
Mas o marido, ultrapassava tudo e todos.
Sempre com a SportTv ligada, gritava impropérios ao árbitro,
atirava-lhe pipocas, sujando completamente o chão da sala,
não jantava em dias de competições europeias
e muitas vezes nos dos jogos da Liga , da Taça,
nos amigáveis, e por aí fora.
De cachecol ao pescoço e boné enfiado até às orelhas
nessas alturas não se podia falar com ele.
Mas também, quando havia Os donos da Bola, O Trio de Ataque,
ou qualquer outro programa em que o tema tocasse,
mesmo ao de leve, no sacrossanto Futebol.
Naquele dia, faziam anos de casados.
Ela foi ao cabeleireiro, arranjou as unhas,
vestiu um vestido decotado
e cozinhou a perna de borrego de que ele tanto gostava.
Chamou-o dezenas de vezes enquanto ele via, deliciado,
A Liga dos Últimos. Nada.
A comida ficou fria. Ela lavou a louça.
Despiu-se. Tirou a pintura da cara.
E, desiludida, foi-se deitar, já passava da meia-noite.
Ficou hirta e sem sono, no escuro, olhando o tecto.
Finalmente, ouviu-o desligar o televisor,
despir o fato de treino, atirar o boné e a t-shirt do clube
para o chão, e meter-se na cama.
Ela encostou-se a ele, e sentiu qualquer coisa
que lhe alimentou a esperança :
" - Então Arturzinho, vejo que continuas a desejar-me como dantes..."
Só então é que ele se apercebeu.
Levantou-se e descalçou, finalmente, as chuteiras.
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