Mas posso dizer-vos que atravessar aquele portão, ladeado pelas bilheteiras, tinha sempre um cheirinho a pecado, e a algo proibido.
Comecei a ir ao Parque, pelos meus doze/treze anos com os meus amigos para a vida de então, o Caeiro e o Pinho (...que já não vejo há quarenta e tantos anos), no geral aos sábados à tarde, para jogarmos ping pong e matrecos.
Durante o dia a entrada era gratúita, mas à noite, ou tinha-se bilhete para um espectáculo ou pagava-se para entrar naquele antro de perdição que, com os neons ganhava contornos de Broadway à Portuguesa.
E era mesmo à portuguesa, porque já naquela altura, a decadência, o estilo abarracado, o ar atascado dos restaurantes, fazia prever um crepúsculo modesto.
Mas o jovem, quase menino, que eu era, não sonhava sequer vir a ver algum dia a outra Broadway, e olhava embasbacado os grandes cartazes, as roliças coristas que passavam apressadas, ou uma qualquer star que flanasse pelas esplanadas, Tony de Matos, José Viana, Irene Isidro, eram algumas delas.
Os Restaurantes, na altura, não me chamavam a atenção porque os tostões eram parcos e destinados
Os Restaurantes, na altura, não me chamavam a atenção porque os tostões eram parcos e destinados
aos mencionados jogos ou, num dia de maior abastança,
a uma fartura com canela, do Valente das Fraturas,
onde Hermínia Silva se estreou como fadista.
Lá mais para cima ficavam as barracas dos tirinhos
com umas decadentes balzaquianas tentando aliciar-nos
ao som duns tentadores Ó simpático, vai um tirinho?!??
E nós muito envergonhados, lá passávamos
com o coração em sobressalto,
para darmos uma outra volta ao recinto,
e passarmos de novo frente a elas,
para tudo recomeçar, Ó simpático...
Mais tarde, muito mais tarde viria a frequentar O Chico Carreira, junto ao ringue do box, onde o Belarmino chegou a lutar, o Tricas com a actriz Maria José na cozinha, propriedade dos seus dois filhos, a Rita Ribeiro, filha do Curado Ribeiro, e o Tó Semedo, filho do Artur Semedo, que fazia a voz do ToppoGiggio.
Havia outro restaurante de que não me lembro o nome, e onde só comi uma vez, com o meu cunhado Fernando Balsinha, uma Lampreia à Minhota, que ele adorava particularmente.
À Manecas, um dos poucos sobreviventes continuei a ir, até aos nossos dias...
Antes de entrarmos no Show Bizz, razão principal da existência do Parque, não me posso esquecer da Fotografia Lusitânia e da sua rival Foto Lux, do Guarda Roupa Paivas e do Anahory, das cervejarias e, muito importante, de um homem que logo à entrada, num quiosque, apregoava ...Um autêntico Saldo de Livros!!!
Foi com ele que iniciei a minha incipiente biblioteca, com verdadeiros achados, como foi o caso de toda a colecção do Almanaque.
se podiam ver filmes, na esplanada do terraço,
o ABC, o Maria Vitória, o Variedades.
Por estes palcos passaram a grande Amália Rodrigues, Vasco Santana, Ivone Silva, António Silva,
Milú, Eugénio Salvador, mas também a
Companhia de Amélia Rey Colaço,
após o incêndio do Teatro Avenida.
Também foi aqui que se apresentou ao vivo e a cores, pla primeira vez, a estrela espanhola Sarita Montiel.
O esquema das Revistas não variava muito - existia um compére , Solnado, Salvador, Humberto Madeira, que com o apoio de umas sempre exuberantes, e pouco vestidas, chefes de quadro, fazia as ligações entre os diversos números; as já faladas coristas de coxa larga, e curvas pronunciadas, a fazerem olhinhos para os espectadores da primeira fila da plateia onde se sentavam os latifundiários alentejanos ou os industriais nortenhos, que investiam nos seus encantos; os actores ditos sérios, como por exemplo o José de Castro, que tinham sempre um quadro dramático, com declamação forte e que metesse guerra, pobreza, fome, injustiça ou similares; uma fadista de voz potente e farta cabeleira; uns boys efeminados, péssimos bailarinos; cenários imponentes e sempre criativos, de papelão; um guarda roupa reciclado, mas com forte colorido e um Grand Final com a Companhia toda no palco, a agrdecer os aplausos.
O esquema das Revistas não variava muito - existia um compére , Solnado, Salvador, Humberto Madeira, que com o apoio de umas sempre exuberantes, e pouco vestidas, chefes de quadro, fazia as ligações entre os diversos números; as já faladas coristas de coxa larga, e curvas pronunciadas, a fazerem olhinhos para os espectadores da primeira fila da plateia onde se sentavam os latifundiários alentejanos ou os industriais nortenhos, que investiam nos seus encantos; os actores ditos sérios, como por exemplo o José de Castro, que tinham sempre um quadro dramático, com declamação forte e que metesse guerra, pobreza, fome, injustiça ou similares; uma fadista de voz potente e farta cabeleira; uns boys efeminados, péssimos bailarinos; cenários imponentes e sempre criativos, de papelão; um guarda roupa reciclado, mas com forte colorido e um Grand Final com a Companhia toda no palco, a agrdecer os aplausos.
As sessões eram duas, uma começava pelas oito e muitos e a outra, dos noctívagos, pelas onze e tal...e terminava-se a beber umas cervejolas no Ribadouro( que já faz parte do Grupo Portugália) tentando descodificar algumas das graçolas políticas, que muitas vezes não perdoavam sequer o Salazar, mas que não podiam ser muito óbvias para não chocarem a Censura.
Depois o Parque foi-se degradando, os espectáculos ao perderem
os autores e artistas de qualidade, refugiaram-se na ordinarice e no humor brejeiro e vulgar,
a qualidade do público seguiu a mesma orientação,
restaurantes fecharam, a sujidade de todos os tipos
invadiu as já precárias intalações, um pouco como o que ia acontecendo por toda a cidade.
E então, à boa maneira portuguesa, começaram a surgir os Projectos - um subdotado, mas com manias de grandeza, sugeriu o nome de Frank Ghery para um espaço pequeno e enclausurado entre um Hotel, um Consulado e um Jardim.
Gastou-se uma fortuna no Projecto ficou tudo em águas de bacalhau...
Um sobredotado, desculpa EPC, sugeriu que se seguisse o exemplo parisiense do Marais.
Para quem não saiba, o Marais é um quartier
de Paris muito maior que o Bairro Alto,
com dezenas de Ruas, Lojas de todos os tipos, Restaurantes, Galerias de arte, Praças, eu sei lá...
Claro está que este Projecto também não seguiu para a frente mas, pelo menos neste caso, não se delapidou o erário público.
E entretanto o Parque Mayer lá está, sujo, deprimente, feio e sem esperança, como quase tudo neste País.
o "Galo" deixa aqui o seu Projecto:
- 1 Hotel de Charme, cada quarto criado por um designer português.
Esse Hotel terá um Restaurante Gourmet orientado por um dos jovens chefs de sucesso.
- 1 Sala de Espectáculos polivalente, para Teatro, Musicais, Dança e outras actividades.
- Galerias de Arte e Ateliers para Artistas, de várias áreas.
- Restaurantes temáticos, com suschi, italiano, nova cozinha portuguesa, mas também alguma fast food, bares, cervejarias, a serem rentabilizados durante o dia com os visitantes mas, também, com os empregados dos escritórios e bancos, da zona.
- 1 Loja Museu para venda de souvenirs relativos aos Espectáculos, às Artes e aos Artistas.
- 1 Livraria tipo Taschen ou mini Fnac
- 1 Pista de Patinagem, Gelo no Inverno, Normal no Verão
...et voilá, está apresentado o novo Central Parque Mayer!!!
Adoro estes spot's em que o Galo se vai revelando e passeando sobre o passado...com um misto e saudade. Excelente.
ResponderExcluirPois é Mário algumas das coisas que escrevo são só para dinossauros...
ResponderExcluirMais do que o olhar para o passado e a visão da progressiva decadência do Parque Mayer, uma das maiores vergonhas de Lisboa, o que é louvável, aqui, é o olhar para o futuro do novo "Central Parque Mayer", que nos é apresentado pelo meu querido Amigo e autor deste Post!
ResponderExcluirSem megalomania, eis um tipo de Projecto que considero exequível e que tornaria aquela zona da cidade apetecível para os que ainda não são dinossauros, e não só...
Um dos melhores artigos que li nos últimos anos. Parabéns!
ResponderExcluirI'm not sure why but this weblog is loading very slow for me. Is anyone else having this problem or is it a problem on my end? I'll check back later on and see if the problem still exists.
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