Lembro-me que os discos que o meu Pai ouvia, num sistema stereo americanizado e com pernas fininhas, e entre os quais abundavam tangos e boleros da dor de corno, lado a lado com os nacionais Max, Tristão da Silva ou as declamações de João Villaret, nada me diziam.
Nem mesmo a D.Amália, nesses tempos distantes, me tocava, estando eu em crer que a causa seria a gravação fanhosa que se arrastava de uma forma dolorosa...para mim, claro.
A única excepção, eram os discos de
Nat King Cole, do qual decorei as letras,
até hoje, no célebre
"Nat King Cole canta em Espanhol".
"Si Adelita si fuera con otro
la seguiria por tierra y por mar.
Depois apareceu outro King, o único, o legítimo, Elvis Presley e cavou-se ainda mais o fosso.
Este musical,
a somar a todos os outros.
Foi a época do Chuck Berry, com o seu Twist, os melosos Paul Anka, Adamo e Everly Brothers, Ricky Nelson, e por aí fora.
Surgiu também a música alienada italiana com o Quarteto de Marino Marini, que cheguei a ver, o Gianni Morandi, o Adriano Celentano e o Domenico Modugno, com os seus famosos Come Prima e Volare.
A música francesa marcava, igualmente, forte presença com a Françoise Hardy, a Silvie Vartan, Jonhy Halliday, seu marido à época, Antoine, Claude François, Anthony e mais uma mão cheia deles, presenças habituais do Salut les Copains.
Alguns anos mais tarde, foi a descoberta da música de protesto ou de intervenção, como então se dizia - Jacques Brel, à frente de todos, Leo Ferré, Serge Regianni, Moustaki, Brassens, entre os francófonos, Patxi Andion ou Juan Manoel Serrat, nos espanhóis, e José Afonso, com Adriano Correia de Oliveira, em Portugal.
Depois, foram anos de loucura, numa profusão e riqueza musical que misturou o grande Cat Stevens com os Beatles, a rainha do Disco Donna Summer com o hot Stevie Wonder, Roberto Carlos com os manos Caetano e Maria Bethânia, os Eagles e os Supertramp, os Rolling Stones com o boss Bruce Springfield, Joan Baez e Bob Dylan, Paulo de Carvalho e Fernando Tordo, Ivan Lins e Ellis Regina, Fairground Attraction e Sade, Tanika Tikaran e os Vaya con Dios, numa torrente variada e ineterrupta, em que só menciono os que primeiro me surgem à cabeça...
E chegados somos, aos nossos dias.
Quando os meus Filhos começaram, eles próprios, a escolher as suas músicas cheias de Shakiras, Beyoncés e Rhyannas eu até gostei...
Melodias simplesinhas, boas coreografias e uns vídeos, bem, uns vídeos, em que até se podia cortar o som.
O pior foi a "evolução"(?), com a passagem para o Eminem, o Fat Joe, os Buraka Som Sistema e o novo "King"- o 50 cent.
Não consigo gostar do ritmo, das letras(?) ou das melodias(?)...
Mas, em simultâneo, não quero fazer o papel intransigente, censórico e bota de elástico que o meu Pai adoptava, em relação às rockalhadas do Elvis.
E então forcei-me a , durante horas, ouvir os Fuck You e os Mother Fucker sucessivos do ex - meliante e actual multimilionário 50 cent.
Em vão, porque para batida repetitiva e hipnótica, preferia o sincopado dos Macuas, nos idos anos 70, em Nampula.
Eu, que até uso ténis DC ou T-Shirts da Rip Curl, não conseguirei
"calçar"
a música rapper ou hip hop ?
São estas as minhas dúvidas existenciais de hoje.
Quem é que me dá respostas, narra experiências e avança soluções ?
Munta agradecido...
Eu "dei" muita música aos meu filhotes enquanto pequenos, e hoje, o Afonso gosta de Philip Glass, Mertens, Art of Noise, para além das novas correntes. Os meus mais pequenos ouviam música clássica na ida matinal para a escola. Ainda estou à espera de resultados. Acho que pelo menos lhes fica alguma coisa na cabeça para o futuro.
ResponderExcluirNão se apoquente, um choquezinho geracional nunca fez mal a nenhum de nós. São eles que nos dão individualidade, no tempo certo e na medida certa. Finalmente os seus filhos encontraram um género que o pai não gosta. Cá para mim devem estar contentinhos.
ResponderExcluirSe todas as gerações gostassem do mesmo tipo de música, usassem o mesmo tipo de roupa e o mesmo penteado então eram TODOS DA MESMA GERAÇÃO!!!
ResponderExcluirBrel dado a conhecer a este escrevinhador nos primeiros anos da decada de 60, em plena cidade de Bruxelas.Magnifico na voz e nos poemas.Que saudades.
ResponderExcluirGalo...
ResponderExcluirOs teus ouvidos não estão "educados"...
Mas insiste, que talvez lá chegues!!!
Afinal não é só para mim que certa música é de ...Museu !!!
ResponderExcluirJá os presenteou com Pink Floyd, Queen, Dire Straights, Xutos, Sétima Legião???
ResponderExcluirQuando crescerem mais um pouco vão apreciar, embora, claro...cada geração tenha o seu espaço, incluindo o musical. Mas o gosto também se cultiva e o facto de agora os garotos estarem "fixados" no rap e hip hop, penso que não tem tanto a ver com o gosto musical, mas com a necessidade de pertença. Neste caso de pertença a um grupo radicalmente diferente do "clã" familiar e da sociedade em geral. Estão na idade do radical e da necessidade de demonstrar isso mesmo! Não pretendo dar uma de socióloga, mas é isto que eu penso...sem rede!
É preciso negociar - 50% de música de um dos lados e 50% do outro.
ResponderExcluirEu sou mais Marisa Monte,Alexandre Pires, Vanessa da Mata, Ivette Sangalo, Tim Maia e os clássicos da MPB.
ResponderExcluirUma das maravilhas das gerações é a diferença. Acho óptimo não gostar da mesma música dos meus pais, sobretudo quando era adolescente. Aliás, qual seria a graça eu ser uma fotocópia de gostos do meu pai, 57 anos mais velho do que eu, ou da minha mãe, 27 anos, ambos beirões e a ‘fugir’ para o conservador.
ResponderExcluirA questão não se coloca tanto pela idade, mas pela ideia de ‘ser certinha e ao gosto dos papás’. Que seca! Confesso dá-me logo as ganas de ‘ser do contra’ e começar a ouvir aqueles rapazes encantadores que simular 'vómitos' ao microfone e abanam violentamente umas cabeleiras mais fartas que a minha. Já me disseram que aquilo é música, e da boa. Eu contínuio com dúvidas.
O meu pai deve ter pensado o mesmo quando ouviu estoicamente as guitarradas dos Kiss no seu carro de fim-de-semana acompanhado de uma filha adolescente e em plena época do contra. E a minha mãe ficava doida quando chegava com o carro ao início da nossa rua e ouvia a minha música aos altos berros. “Coitados dos vizinhos!”, dizia um número de vezes sem conta.
A diferença entre gerações faz falta e é saudável. E na nossa vida as influências não nos chegam apenas dos pais. Na música para mim, as influências vieram das tardes na casa dos meus tios preferidos, nas férias de Verão em Gaia em que a minha amiga Paula me deu a conhecer nomes como Pavlov’s Dog, Devo, The Cure, U2, mais tarde, namorados e amigos que passaram ao longo da vida e me apresentaram músicas dos 4 cantos do mundo.
Anos mais tarde, comecei a gostar de fado. A música dos meus pais. Finalmente o encontro de gerações? Talvez. Mas o fado chegou devagarinho e com vozes novas, a cantar de uma forma diferente da Amália, Alfredo Marceneiro e outros nomes idolatrados pelos meus pais.