sentiu uma comoção forte.
O barulho das ondas e o sabor salgado que se aspirava no ar,
trouxeram-lhe à memória recordações há muito esquecidas.
Quando era miúdo costumava ir para Moledo, com os pais.
Lá todos se conheciam, as famílias e as conversas eram sempre as mesmas.
A água muito fria não o impedia, a ele, aos primos e amigos,
de passarem horas dentro de água
em folguedos que ainda o excitavam, só de pensar.
Depois, quando o pai foi transferido, iniciou-se a época do Tamariz,
com idas ocasionais até ao Guincho.
Queques e muito vento, os primeiros namoros
com as meninas benzocas da sociedade local,
as fumaças às escondidas, os beijos no Jardim da Parada.
A seguir a vida dera muitas voltas. Passara anos em Angola.
Experimentara a água quente da Ilha
e as praias paradisíacas do Mussulo.
Em viagens até Moçambique,
deleitara-se com as areias finas das Chocas e de Macaneta.
Pensara nunca voltar a conhecer lugares como aqueles.
E agora, estava prestes a entrar na famosa praia da Quinta do Lago.
Iria encontrar alguém conhecido do Moledo ou do Estoril?
A praia era definida como habitat estival
de muitos dos colunáveis nacionais.
Dizia-se que os famosos só o eram realmente
depois de comerem um peixinho grelhado
no Gigi, pago a peso de ouro.
Interrogou-se. Que fazer se encontrasse a Bebé Estarreja,
a sua primeira namorada, que abandonara sem uma palavra?
E se se cruzasse com os primos Tarouca,
cúmplices de tanta asneirada, adolescência fora?
Encolheu os ombros e fez um exame rápido à sua apresentação.
Trinta anos, forma física invejável, forte bronzeado natural.
Bermudas pelo joelho, um pólo tradicional de alvura total.
O Ipod colocado com displicência, embora desligado.
Remexeu, uma vez mais, o dinheiro no bolso, para se sentir confiante.
Depois pisou a areia com firmeza, ajeitou a cesta a tiracolo.
E gritou, bem forte:
“- Olha a Bola de Berlim fresquinha, olha a Bola com creme…!!!”
Margarida Robalo Pargo
De vez em quando vejo uma nova assinatura mas um texto com o estilo e características já lidas anteriormente por estes lados.
ResponderExcluirÉ o caso desta Margarida RP ( Rebelo Pinto?)que pelo insólito e bem disposto final me recorda...o Ernesto!!!
Estarei enganado?
De qualquer das maneiras parabéns, porque fui enganado até ao fim.
Belo Pargo e belo conto, belo Robalo e belo conto, bela Margarida e belo conto a merecer lugar no podium, pois a mim não me preocupa se é ela ou se é ele, ao contrário do Adriano.
ResponderExcluirAgora fomentar as preocupações relevantes da ASAE com as bolas de berlim, é que não me parece justo !!!
Mas venham mais contos, Margarida piscicola !!
Todos os dados, incluindo Moledo e, deduzo, o Tamariz, a levarem-nos para um lado e depois a conclusão a empurrar-nos para o lado contrário.
ResponderExcluirNeste género, mais um magnífico exemplo que não sei reconhecer se é de autor já conhecido ou novo.
Nem isso é o mais importante...
Fez-me lembrar um pouco os depoimentos de férias de algumas figuras públicas. Não fosse a ironia.
ResponderExcluirSubscrevo aqui por baixo... mas para gastar $$$ eu iria ao João do Ancão, nunca ao Gigi... :-)
ResponderExcluirDo meu lado, embora eu passe as minhas férias entre safaris, touradas e guerras civis,podem contar com 5 Contos.
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