sexta-feira, 31 de julho de 2009

Os lixos e a alma, ou a alma nos lixos

“Ah! Ah!...foi desta que te apanhei; então andamos a tentar perder uns quilos e tomamos YZX34!!!”
- Olá vizinha! Como vai?
- Olá, … desculpe? Conhece-me?
- Luciano Cortial.
- Ah! E...
- Seu vizinho de baixo. Não me diga que nunca reparou...
- Não! Se quer que lhe diga, nunca reparei... Ah! espere não é o senhor que costuma olhar para o caixote do lixo? Olhar... Olhar não será bem, o senhor mexe no lixo! Porque é que faz isso?
- Bom... eu...eu... não mexo no lixo... Sabe... tenho uma teoria, o lixo de cada um é um retrato da sua alma.
- Da minha alma?
- Sim, sim da sua alma.
- E o que é que o senhor tem a ver com a minha alma? Não lhe parece, que a ser verdade o que diz, está a invadir a privacidade de cada um?
- Bem...pois...
- A partir de agora, de cada vez que deitar para o lixo qualquer coisa vou pensar que o senhor me está a observar... a espreitar a minha alma...
- E isso desagrada-lhe?
- É evidente, não? E se eu espreitasse o seu lixo? Que disparate! Eu quero lá saber do seu lixo... que porcaria.
- O meu lixo é uma porcaria?!... Como é que sabe? Já espreitou?...Já. Já espreitou. Ah! Ah!
- Já espreitei...o seu lixo!? Que pretensioso. Sabe o que lhe digo?
- ...mas gostava muito. Diga, diga.
- Digo-lhe que a sua teoria além de porca e mentecapta é completamente inútil.
- Como assim?
- Pois não é preciso espreitar o seu lixo para lhe ver a alma... esta conversa é mais do que suficiente...
- E a minha alma é?...
- Um lixo, claro! Adeus…tenha um bom dia.

Contos do Feeling Estranho

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