O Chefe da Redacção não fora de meias palavras:
“- Ou me trazes uma Reportagem sensacional, ou podes arrumar as coisas e começar a procurar emprego, num qualquer pasquim que, ainda, engula as tuas aldrabices”.
E, zás…porta atirada com estrondo.
Por breves segundos sentiu-se estonteado.
Rendas da casa, atrasadas três meses.
Vales na tesouraria que já incluíam o subsídio de férias e de Natal.
Dívidas ao Santana Gordo, no casino clandestino, onde a malta dos jornais se juntava.
Mais recentemente, a zanga com a Ritinha, stripper de alto gabarito, que nas fases más, e eram quase todas, sempre ajudava no orçamento familiar.
E, agora, aquele ultimato…
Mas o que é que o Chefe Tavares quereria?
Que ele descobrisse que se preparava um atentado contra o 1º Ministro?
E já agora organizado pela fulana da TVI, não?
Ou que o Cavaco tinha um affair com a Soraia Chaves?
Se calhar preferia outro escândalo financeiro com o Constâncio caçado com várias contas offshore, villas em Miami e resorts nas Bahamas…
Ou que aquele presidente do Partido de Direita tinha sido visto mascarado de Pippi da Meias Altas, ou que o Vitorino ainda brincava com carrinhos Dinky Toys.
Algo como o que, muitos anos atrás, pusera Orson Welles nas bocas de toda a gente.
A Guerra dos Mundos, ou coisa parecida…
Mas ele ia-lhe mostrar…
Ia inventar uma história que faria correr rios de tinta.
Uma notícia impossível de provar ou negar.
Um estouro, que alastraria aos outros jornais e revistas.
Que seria a abertura dos telejornais, durante muitos dias.
A tal Reportagem que lhe daria a promoção há muito esperada.
Prémios jornalísticos, convites para Semanários ou, quem sabe, para comentador na televisão…
Escreveu o título “Eles já estão entre Nós!”
E, depois, continuou:
“…Muitas das personalidades mais destacadas nas artes, ciência e meios políticos, são seres de outros planetas, extraterrestres que vivem entre nós, sem que nós desconfiemos sequer da sua existência…”
No fundo da sala, o Chefe da Redacção entreabriu ligeiramente o estore do gabinete, para ver se assustara o seu subordinado, com tanto de talento como de preguiça, e sorriu ao vê-lo debruçado sobre o computador.
Depois tirou a peruca e coçou a esfera translúcida onde brilhavam luzes vermelhas e azuis…
Isaac Simac
terça-feira, 7 de julho de 2009
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Isaac, adorei este conto.
ResponderExcluirMuito bem escrito e desenvolvido com uma história que foge ao habitual.
Parabens e por favor, repita a colaboração com o Galo.
Muito bom. Adorei. Ainda mais que tenho fresco o filme que fui ver ontem "Ligações Perigosas", que se desenrola no mundo dos jornais.
ResponderExcluirMuito provavelmente este Conto não é mesmo ficção...
ResponderExcluirE este(a) Isaac Simac ainda vai chegar é a Director(a)de um jornal diário, com a maior tiragem, do nosso país!
E já que de Comunicação Social se trata:
ResponderExcluirontem, tivemos o "circo" Cristiano Ronaldo nas Televisões; hoje, tivemos o "circo" funeral de Michael Jackson.
Amanhã, o que teremos???!!!
Alguem viu alguma coisa sobre, por exemplo, Pina Bausch?
Cara Contessa, a Pina Bausch não vende...
ResponderExcluirTout court, é disso que se trata.
O Romário, o Jackson, a Gripe A, principalmente se houver muitos mortos e contagiados, o Freeport,as Eleições, os Corninhos e outros fait divers,o Benfica,os amores da Alexandra Lencastre e os filhos da Serrano,o último e mais intimista romance do Miguel Sousa Tavares,as orgias do Berlusconi, estas são notícias que, em escalas muito variadas, ajudam a vender papel e tempo de antena.
E é disso que os "jornalistas" vivem, no duplo sentido da palavra.