– O capitão Paul Watson está de olho no senhor.
Lembremos, antes de mais, quem é o capitão Paul Watson.
A Time Magazine nomeou-o "Herói Ambiental de Século XX".
Integra um grupo restrito de dez figuras mundiais representativas dos direitos dos animais.
Foi co-fundador do Greenpeace e lidera a Sea Shepherd Conservation Society, que fundou na década de 70 e constitui a mais combativa (e controversa) organização que se opõe às barbáries da indústria baleeira.
Nessa qualidade compareceu na reunião da Madeira.
Mas: logo que desembarcou no aeroporto foi preso.
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras possuía um mandado de detenção relativo a «incidentes ocorridos em 1979 na zona do porto de Leixões.»
Recordo-me bem do caso: o afundamento do baleeiro Sierra, o primeiro de uma dezena de embarcações afundadas nas últimas três décadas.
Os acontecimentos vividos em Leixões nos dias seguintes ao lance radical do capitão Paul Watson constituem uma história fabulosa, muito desconhecida, que gostaria de contar um dia.
Há uma foto histórica de uma prática (entretanto desactivada) ao estilo do pistoleiro que vai traçando na coronha
as baixas produzidas.
O capitão Watson exibia no exterior de um dos seus navios as bandeiras dos países com baleeiros afundados e respectivos nomes, ou a conhecida bandeira pirata tratando-se de navios não patrocinados por uma pátria específica.
Assentiu. Sórdido, sem dúvida.
E retirou do bolso um folheto que entregou ao repórter.
– Há algo de ainda mais sórdido – disse Watson. – Talvez tenha interesse em ver.
No folheto editado por esta ONG, que continua actual,
– Há algo de ainda mais sórdido – disse Watson. – Talvez tenha interesse em ver.
No folheto editado por esta ONG, que continua actual,
descreve-se cruentamente, com reproduções a cores, um dos mais "modernos" processos de matança.
A sequência começa com a particularidade de o arpão conter na ponta um explosivo dotado de um dispositivo de retardamento. Accionado por um mecanismo de enorme potência, o arpão perfura meio metro e a explosão ocorre no interior do animal, que, estripado, debatendo-se num mar de sangue, agoniza por uma longa hora.
Quatro anos antes do afundamento em Portugal do Sierra (cujo comandante se vangloriava de já ter matado 25 mil baleias), o líder da Sea Shepherd e Robert Hunter (principal fundador do Greenpeace) colocaram as vidas em risco ao permanecerem a bordo do insuflável Zoodíaco na linha de tiro, entre as baleias e os arpões de um navio russo.
Pela mesma época, caçadores de focas tentaram assassiná-lo dependurando-o num guincho do navio e mergulhando-o várias vezes nas águas geladas até perder os movimentos das pernas, depois a consciência.
Valeu-lhe um alerta e sequente intervenção de oficiais costeiros que foram encontrá-lo mergulhado em óleo e sangue de baleia.
No mês passado, os canais televisivos Animal Planet e o Discovery deram ao capitão Paul Watson e à sua organização activista extraordinária visibilidade por meio da estupenda série Whale Wars (Piratas Ecológicos na versão portuguesa).
São sete episódios de uma hora que o Discovery está agora a retransmitir em horários não fixos. Uma equipa de repórteres a bordo do principal navio da Sea Shepherd, o Steve Irwin, conduz-nos a alucinantes confrontos no Antárctico entre os ecologistas e os caçadores de baleias.
«A nossa arma é a Imprensa» – declara o capitão Watson num dos primeiros episódios, quando dois tripulantes, com espantosa agilidade, conseguem escalar um navio japonês e deliberadamente se deixam capturar.
Nesse preciso minuto o capitão Watson difunde a uma escala planetária, para as agências dos cinco continentes, a notícia de que uma embarcação da frota baleeira nipónica mantém reféns dois activistas que pretendiam «tão-só...» entregar em mão, ao comandante, cópia da moratória internacional à caça da baleia, em vigor desde 1986.
O episódio converte-se de imediato em assunto de Estado.
Abre-se um incidente entre o Japão e a Austrália.
A história dos "ecologistas reféns" ateia um fogo vivo e duradouro às primeiras páginas da Imprensa, um milhão de blogs reabre a discussão sobre a dizimação da vida marinha, o tema prossegue dias consecutivos nos noticiários radiotelevisivos.
Entretanto, aparece-nos o rosto sereno do Capitão Watson, explicando (a nós, os espectadores da série...), com palavras, olhares, meios sorrisos de cumplicidade, de argúcia: «Se tivessemos comunicado que um barco japonês estava a cometer o acto ilegal da matança de baleias, nem uma linha teria sido publicada.»
O principal navio da Sea Shepherd, o imponente Steve Irwin, conta com o apoio de um helicóptero, que desempenha não só a função de localizar os caçadores de baleias mas também, quando as tentativas dissuasoras resultam inoperantes, a de filmar as chacinas e, como acabei de assistir, reportar os recontros com activistas, luta física inclusive. Fixei o instante dramático em que se vêem japoneses a tentar lançar os intrusos à água. Refreiam tal propósito quando se apercebem de que estão a ser filmados. Em todas as situações de luta entre tripulações, também de chacina das baleias, os potentes altifalantes do capitão Watson não cessam de estrondear: «Estão a cometer um crime. Estão a cometer um acto ilegal proibido por lei. Estão a cometer um crime...»
A Sea Shepherd assinala que o combate radical movido desde a fundação desta ONG contra os baleeiros, incluindo o afundamento dos mesmos, não causou até agora uma única vítima humana. Mas, recentemente, o próprio capitão Watson sofreu um ferimento que poderia ter sido mortal.
Curiosa coincidência: no mesmo dia em que se iniciava a transmissão da série Whale Wars estava o capitão Paul Watson detido no aeroporto do Funchal, interrogado pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
Horas depois chegou o ministro do Ambiente, Nunes Correia, trazendo na bagagem de mão o seu ancestral e insanável conflito com o ambiente.
Foi ele quem, como representante do país anfitrião, abriu a Conferência.
Apelou à flexibilidade. Flexibilidade, flexibilidade – pregão tão repisado que a Conferência, cambaleante, não resistiu e terminou antes do previsto.
Mas o arpão da suprema flexibilidade zuniu logo na abertura.
Encarando com doçura os ínclitos emissários dos países pró-caça à baleia (Japão, Noruega, Rússia e Islândia, somando, em 2008, mais de dois mil daqueles cetáceos trucidados para... "fins científicos", alegam) o ministro Nunes Correia foi dizendo que... bem... Portugal «pode tolerar a retoma da caça costeira em países com tradição baleeira.»
O capitão Watson, enfim libertado e presente na reunião, terá feito um esgar de surpresa e esfregado as mãos, silenciosa mas determinadamente.
Mais ruidosos, no exterior, os apoiantes da Sea Shepherd advertiam: «Tão criminosos são os caçadores como os governos que toleram os crimes.»
Serei fantasioso, já o disse, mas admito que alguém tenha soprado ao ouvido do ministro do Ambiente o risco de um abalrroamento:
– O capitão Paul Watson está de olho no senhor.
O certo é que, passados dois dias, tão logo regressou a Lisboa, o ministro instruiu no sentido de fazer chegar à comunicação social a posição do Ministério do Ambiente, defendendo «o reforço das políticas de conservação das baleias, a manutenção da actual moratória e rejeitando que a caça à baleia venha alguma vez a ser retomada em Portugal ou nas suas águas territoriais.»
A tradução para inglês terá entretanto chegado às mãos do capitão Paul Watson.
Sabe-se quanto é difícil arranjar tradutores para japonês e russo.
O capitão Watson, enfim libertado e presente na reunião, terá feito um esgar de surpresa e esfregado as mãos, silenciosa mas determinadamente.
Mais ruidosos, no exterior, os apoiantes da Sea Shepherd advertiam: «Tão criminosos são os caçadores como os governos que toleram os crimes.»
Serei fantasioso, já o disse, mas admito que alguém tenha soprado ao ouvido do ministro do Ambiente o risco de um abalrroamento:
– O capitão Paul Watson está de olho no senhor.
O certo é que, passados dois dias, tão logo regressou a Lisboa, o ministro instruiu no sentido de fazer chegar à comunicação social a posição do Ministério do Ambiente, defendendo «o reforço das políticas de conservação das baleias, a manutenção da actual moratória e rejeitando que a caça à baleia venha alguma vez a ser retomada em Portugal ou nas suas águas territoriais.»
A tradução para inglês terá entretanto chegado às mãos do capitão Paul Watson.
Sabe-se quanto é difícil arranjar tradutores para japonês e russo.
Norueguês e islandês, então...
Tremendo libelo contra uma das maiores atrocidades que, nos nossos dias, se continua a praticar um pouco por todo o lado.
ResponderExcluirAplausos, Pedro Foyos...
Seu Pedro com barbas de Noé até que é um garotão turbinado...
ResponderExcluirEstá tudo escrito ali.
ResponderExcluirRepito só esta frase:
«Tão criminosos são os caçadores como os governos que toleram os crimes.»
E lembro-me de um momento num livro (Sepúlveda?) onde se descreve de forma impressionante a chacina das baleias. Inesquecível, pelos piores motivos.
Um Olé com Duende para mais um Traço Descontínuo. E também para o Capitão Watson. Olé!!! Arza!!
Excelente post. Se todos fizessemos um bocadinho de força a favor de várias causas, seria impossivel as barbaridades que se continuam a ver e a fazer.
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