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Não se podia dizer que até ali tivesse corrido mal, apenas os incidentes habituais destas viagens longas, nem sempre pelas melhores estradas, nem sempre preparadas com a exigência que lhes é requerida.
Mas já estava na recta final e começava a sentir ânsia de chegar. Até tinha optado pela auto-estrada para que este último percurso pudesse ser menos penoso e chegar mais depressa.
Já há dois anos que estava fora.
Afeganistão, Darfur, Iraque tinham sido as suas últimas posições para um trabalho duro e por vezes quase desumano, mas que nem por isso o tinham levado alguma vez a desistir.
Antes pelo contrário, embrenhou-se totalmente até começar a sentir que poderia estar a perder a sua própria identidade e a razão de ali estar.
Ganhou outra dimensão humana, outra forma de sentir os outros, outro sentido para a sua vida.
Sabia que a missão estava por ora cumprida e, sobretudo, sentia que estes dois anos tinham sido a sua melhor terapia.
Orgulhava-se como repórter de guerra, profissão que nunca equacionou mas que as voltas da vida para lá o tinham empurrado; orgulhava-se como homem que, depois das muitas cabeçadas e más escolhas, tinha conseguido traçar o seu próprio destino e fazer a diferença, deixando que a vida não lhe passasse ao lado.
Sentia-se bem consigo próprio, retemperado, recuperado.
Agora sim, sentia cada vez mais saudades de tudo e de todos, achava mesmo que rebentaria se maior fosse a distância que o separava do seu mundo.
Voltaria a ser o seu mundo e, só de lhe passar isso pela cabeça, deixava-se emocionar.
A portagem já se configurava ao fundo, iria fazer os últimos kilómetros calmamente, com luz de final de dia como tanto apreciava.
Chegaria para jantar, surpresa para todos excepto para a mãe a quem nunca tinha conseguido esconder nada!
Entregou o bilhete ao portageiro e quando este lhe deu o troco, a parte mais penosa da sua vida voltou a abater-se sobre si.
Tinha visto demasiadas vezes aquela mão para agora não a reconhecer.
Afinal era a mão que segurava a sua filha sempre que esta ia estar com o pai!
Brutal! Quase tanto como quando soubera que Rita afinal não era sua filha, que Francisca afinal tinha tido um caso com um namorado antigo, que afinal esse namorado era o verdadeiro pai.
Diziam que se tinha portado como um homem verdadeiramente decente e corajoso, se bem que isso nunca lhe diminuiu a dor de enlouquecer que arrastava até há bem pouco tempo.
Rita continuou a ser sempre a sua filha, Francisca, tal como ele, seguiu a sua vida não sem dor, do chamado pai nunca quis saber nem ver.
Era sempre o tio que levava e entregava Rita, mão bem forte e determinada naquela tarefa que lhe era confiada.
Voltava a dor de enlouquecer e voltar ao seu mundo era agora quase que impossível, porque talvez o mundo voltasse a não ser seu…
Luís não ia chegar, nem para jantar nem nos tempos mais próximos.
Surpresa para todos excepto para a mãe a quem nunca tinha conseguido esconder nada.
Quin
Quin, há quanto tempo?
ResponderExcluirUm pouco confuso e, aparentemente, com algumas mensagens codificadas, mas mesmo assim, bastante interessante.
Agora, não esteja é tanto tempo sem dar sinais de vida...
Esquece, Quin, eu amei...
ResponderExcluirCorrespondente de Guerra, um tema que ainda não tinha sido aproveitado e que tem pano para mangas...
ResponderExcluirEu pelo meu lado gostei.