Dizer que o barulho me perturba é uma afirmação que precisa ser demonstrada.
No entanto não deixa de ser verdade que alguma coisa me está a perturbar... tanto assim que já perdi três jogos e o Luís é um dos jogadores mais fracos que já defrontei.
Então porquê três jogos?
É verdade que é a primeira vez que jogo nesta sala; é verdade que nunca aqui tinha vindo; é verdade que este grupo feminino que dança, ou que se esforça por dançar, ou tentar dançar me desconcentra... mas também é verdade que já joguei em ambientes muito mais barulhentos e não foi por essa razão que perdi...
Procuremos então a causa.
Bom se calhar foi por isso que já perdi três jogos.
Ponho-me a pensar nas razões que me levam a desconcentrar-me... e zás, desconcentro-me... e perco.
Bolas, este também já foi... que raiva. Assim vão quatro...
Se o Luís chegar aos seis...mas com este já está perdido, vamos aguentar, aguentar, e ao mesmo tempo tentar perceber a causa...
A sala é decadente, mas simpática, os espelhos do fundo um espanto.
O chão é novo. O grupo que dança, ou que tenta dançar é heterogéneo, só mulheres, melhor todas do sexo feminino, porque há ali uma ou duas que são miúdas e dois homens.
Bom, um é brasileiro... e canta e manda... e canta... e dança... e o outro?...O outro?
O outro é um caso. Dançar, não dança. Falar? Não me parece... cantar? É evidente que não...
O que é que ele faz? Ah! agarra na mão da mais miúda das mulheres...porquê?
Porque a rapariga foge? Porque... a rapariga faz disparates?
Porque os pais lha deram à guarda? Porque... porque...
Pronto lá perdi a merda do jogo... E vão cinco.
Caraças se eu não saio desta vou ter de pagar o jantar ao Luís...
E elas saltam... e elas cantam... e elas dançam... e as cartas...
Só faltava este... O Jeremias de sobretudo...“Olá, estás bem?”
E agora senta-se e olha-me para as cartas... e aquelas gajas que pulam... gritam... dançam.. dançam?
... A dançar fico eu se perco este jogo... Gaita... Como é que eu não vi que o Rei ainda não tinha saído? Pronto, mais uns pontos para o Luís... e o Jeremias a tirar o sobretudo... que cheiro a naftalina...
E a música...música? Se isto se chama música...
Irra, que merda, o gajo tem os trunfos todos... as gajas também têm todas... caraças...lá se foi a dama... merda... decididamente não tenho sorte com as mulheres... aquelas ali gritam mais do que cantam... as daqui vão todas para o Luís... e... pronto... lá vou ter que pagar o jantar a este gajo.
Contos do Feeling Estranho
terça-feira, 14 de julho de 2009
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Um conto de fazer dançar a nossa imaginação e por estranho que pareça até que não é estranho!
ResponderExcluirO autor tem imaginação, é criativo q.b. e força brilhantemente a visualização do ambiente.
Parabéns.
O autor mais estranho de todos os que se juntaram aqui no Galo.
ResponderExcluirE uma vezes a estranheza leva-o a escrever óptima prosa, outras vezes nem tanto...
Deixei de ter um feeling estranho ao lê-lo. Já o identifico nos primeiros parágrafos.Entranhou-se mesmo.
ResponderExcluirDemasiado 'screenplay' (aquelas coisas ... ... ...)
ResponderExcluirPouca lit.
Sorry, é apenas a merdosa da minha opinião.
Parabéns na mesma, Feeling