quinta-feira, 9 de julho de 2009

A perdição de achar - MEC

"...Há trinta anos eu escrevia para impressionar as pessoas que queria impressionar: as mais velhas, que me impressionavam a mim.
Hoje, tendo-me dado tardia conta da minha menopausa (da minha mudança de idade), vejo-me na vaidade de escrever para impressionar as pessoas que ainda se podem impressionar: as mais novas, cuja impressão (não me conhecendo de parte alguma) ainda me impressiona.
Porquê? Não aprendi nada neste tempo todo?
Afinal não. Foi isso que aprendi.
São embaraçosas estas confissões.
Mas é preciso dizer a verdade porque, por muito velhos que estejamos, ainda estamos na mentira.
Por ser essa a ideia de vida, tal qual está.
Como é que se pode envelhecer mais devagar? É a pergunta dos velhos.
Mas a resposta é fácil: mantendo-nos estúpidos; recusando-nos a aprender; não armazenando; desviando a atenção; dando tudo pela curiosidade.
É não estando à procura da verdade, mas da procura.
Os que estão à procura das verdades, quando as encontram, contentam-se e confortam-se e não se fartam de repeti-las.
Podem ser sábios (porque a verdade existe) mas assinaram a própria condenação à morte; despacharam-se; tornaram-se desnecessários.
O que é preciso é procurar a procura e não a verdade.
Quem quer encontrar o livro mais bem escrito?
É a morte. É relativo: é o fim.
Mesmo que se encontre o que se procure, não se pode dar parte de fraco.
Faz-se de conta que não era aquilo e segue-se caminho até esquecer que se encontrou.
Adiante..."

Miguel Esteves Cardoso

Enviado por Alv ega

12 comentários:

  1. Teriamos aqui pano para uma discussão que não dá para ser informática.
    Percebo e aceito que acomodarmo-nos, julgarmo-nos os senhores da verdade possa ser a Morte.
    Mas quanto a mantermo-nos estúpidos e recusarmos a aprender...aí já não estou de acordo.

    ResponderExcluir
  2. O MEC, quanto mais gordo está, melhor escreve.... Conclusões ??

    ResponderExcluir
  3. Conclusões...mais espaço para o talento se poder expandir !?!

    ResponderExcluir
  4. Antigamente gordura era formosura.

    Agora, mais gordura, mais cultura ?!???

    ResponderExcluir
  5. tive um amigo que dizia que tinha de ser gordo para o talento dele caber!
    e ele tinha muito talento!
    tenho saudades do talento dele!... e dele.

    ResponderExcluir
  6. Já agora, e para um gordinho qualquer... (e em 'inglishe', como deve ser)


    Stop all the clocks, cut off the telephone,
    Prevent the dog from barking with a juicy bone,
    Silence the pianos and with muffled drum
    Bring out the coffin, let the mourners come.

    Let aeroplanes circle moaning overhead
    Scribbling on the sky the message He Is Dead,
    Put crepe bows round the white necks of the public doves,
    Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

    He was my North, my South, my East and West,
    My working week and my Sunday rest,
    My noon, my midnight, my talk, my song;
    I thought that love would last for ever: I was wrong.

    The stars are not wanted now: put out every one;
    Pack up the moon and dismantle the sun;
    Pour away the ocean and sweep up the wood.
    For nothing now can ever come to any good.


    W. H. Auden

    ResponderExcluir
  7. dedicado a Christopher Isherwood

    http://en.wikipedia.org/wiki/W._H._Auden

    ResponderExcluir
  8. Magnificamente "recitado" em "Quatro casamentos e um funeral", pelo actor escocês John Hannah...

    ResponderExcluir
  9. E aí estão eles de novo em palco...
    Projectores, luzes, público e palmas, muitas palmas...

    ResponderExcluir
  10. O poema é magnífico e com um ritmo tão sincopado que me deu a sensação de ouvir declamar ou "dizer" como exemplarmente fazia Mário Viegas!
    Agora, levando para a brincadeira - já visitaram o Blogue ABRUPTO? Experimentem...

    ResponderExcluir