Era a primeira vez que Maria Helena passava uma noite no campo.
Nada e criada no Porto, numa rua estreita que saía dos Aliados, habituara-se, desde sempre, a adormecer e a acordar com o som do trânsito, dos táxis aos automobilistas apressados, das motos e motorizadas com tubo de escape aberto às ruidosas manifestações dos adeptos futebolísticos ou as alcoolizadas alegrias dos jovens estudantes.
E hoje, a convite duma colega do escritório, Maria Helena deitada numa pequena cama de ferro como e olhando as vigas de madeira do tecto, pensava como era diferente e romântica uma noite no bucolismo da serra.
Chegara há pouco, mas imaginava, já, o acordar na manhã seguinte, de forças retemperadas, ao som do chilrear dos passarinhos, rodeadas de belas borboletas e aspirando o doce aroma das flores, desabrochando em miríades de coloridos.
Foi então que o ouviu, ao mosquito. Ao mosquito.
Ao princípio nem percebeu o que era. Um ligeiro zumbido que ganhava dimensões preocupantes quando se aproximava dos seus ouvidos. Tentou tapar-se com o lençol mas o ruído manteve-se. Acendeu a luz.
Ouviu, então, o burro da casa a zurrar. E depois, em cadeia, todos os asnos da vizinhança a darem as suas respostas, em diversos timbres.
Sentou-se na cama, ajeitou a almofada e fez por ler.
Quando sentiu a primeira picada ainda tentou matar o insecto, mas sem sucesso. Foi mordida, de novo, uma e outra vez.
Outra vez às escuras, encolheu-se na cama. As vigas do tecto rangiam, de quando em vez,. Maria Helena imaginava grandes ratazanas, mirando-a no escuro.
Não pregou olho. O mosquito, amiúde, voltava ao ataque.
Pouco depois, pelo menos foi o lhe pareceu a ela, começou o canto dos galos, repetido, igualmente, em ecos das casas anexas. Seguiu-se a banda sonora de aves, que ela desconhecia, mas, qeu repetiam sons, à exaustão.
Maria Helena, de olheiras profundas e picada em latitudes diversas, levantou-se meio estremunhada e cambaleante.
Alcançou o jardim e olhou a beleza das flores “- Valha-me ao menos isto !”pensou. Aproximou-se e aspirou profundamente…
A abelha acertou-lhe, em cheio, na ponta do nariz. Logo de seguida, o cão da quinta, mordeu-lhe as canelas…
Maria Helena arranjou uma desculpa esfarrapada e escapuliu-se para a sua casa na Invicta.
Chegada à protecção do seu quarto de solteira, abriu a janela de sacada, e do alto seu 3º andar, aspirou profundamente o ar poluído da cidade, escutou a melodia das buzinas enfurecidas e sussurrou para com os seus botões:
“- Home sweet Home “.
Maria Papoila
quinta-feira, 11 de junho de 2009
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Excelente conto.
ResponderExcluirEu também estou cada vez mais citadino.
Praia muito pouca e campo nem sonhar.
Bom conto.Gostei sobretudo da guerra com o mosquito.
ResponderExcluirOs pais convidaram-me para ir uns dias até ao Buçaco.
ResponderExcluirQue pena não ter aceitado (Ah!Ah!Ah!).
Os encantos do campo não são tão imediatos como os da praia mas depois de os conhecermos são mais duradouros.
ResponderExcluirPelo menos para mim...