quinta-feira, 11 de junho de 2009

A Cidade e as Serras

Era a primeira vez que Maria Helena passava uma noite no campo.
Nada e criada no Porto, numa rua estreita que saía dos Aliados, habituara-se, desde sempre, a adormecer e a acordar com o som do trânsito, dos táxis aos automobilistas apressados, das motos e motorizadas com tubo de escape aberto às ruidosas manifestações dos adeptos futebolísticos ou as alcoolizadas alegrias dos jovens estudantes.

E hoje, a convite duma colega do escritório, Maria Helena deitada numa pequena cama de ferro como e olhando as vigas de madeira do tecto, pensava como era diferente e romântica uma noite no bucolismo da serra.
Chegara há pouco, mas imaginava, já, o acordar na manhã seguinte, de forças retemperadas, ao som do chilrear dos passarinhos, rodeadas de belas borboletas e aspirando o doce aroma das flores, desabrochando em miríades de coloridos.

Foi então que o ouviu, ao mosquito. Ao mosquito.
Ao princípio nem percebeu o que era. Um ligeiro zumbido que ganhava dimensões preocupantes quando se aproximava dos seus ouvidos. Tentou tapar-se com o lençol mas o ruído manteve-se. Acendeu a luz.

Ouviu, então, o burro da casa a zurrar. E depois, em cadeia, todos os asnos da vizinhança a darem as suas respostas, em diversos timbres.
Sentou-se na cama, ajeitou a almofada e fez por ler.
Quando sentiu a primeira picada ainda tentou matar o insecto, mas sem sucesso. Foi mordida, de novo, uma e outra vez.
Outra vez às escuras, encolheu-se na cama. As vigas do tecto rangiam, de quando em vez,. Maria Helena imaginava grandes ratazanas, mirando-a no escuro.
Não pregou olho. O mosquito, amiúde, voltava ao ataque.

Pouco depois, pelo menos foi o lhe pareceu a ela, começou o canto dos galos, repetido, igualmente, em ecos das casas anexas. Seguiu-se a banda sonora de aves, que ela desconhecia, mas, qeu repetiam sons, à exaustão.

Maria Helena, de olheiras profundas e picada em latitudes diversas, levantou-se meio estremunhada e cambaleante.
Alcançou o jardim e olhou a beleza das flores “- Valha-me ao menos isto !”pensou. Aproximou-se e aspirou profundamente…
A abelha acertou-lhe, em cheio, na ponta do nariz. Logo de seguida, o cão da quinta, mordeu-lhe as canelas…

Maria Helena arranjou uma desculpa esfarrapada e escapuliu-se para a sua casa na Invicta.
Chegada à protecção do seu quarto de solteira, abriu a janela de sacada, e do alto seu 3º andar, aspirou profundamente o ar poluído da cidade, escutou a melodia das buzinas enfurecidas e sussurrou para com os seus botões:
“- Home sweet Home “.

Maria Papoila

4 comentários:

  1. Excelente conto.
    Eu também estou cada vez mais citadino.
    Praia muito pouca e campo nem sonhar.

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  2. Bom conto.Gostei sobretudo da guerra com o mosquito.

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  3. Os pais convidaram-me para ir uns dias até ao Buçaco.
    Que pena não ter aceitado (Ah!Ah!Ah!).

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  4. Os encantos do campo não são tão imediatos como os da praia mas depois de os conhecermos são mais duradouros.
    Pelo menos para mim...

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