Verão

Estava calor. Havia no ar uma certa secura.
Ele pensou nuns tremoços e numas imperiais.
Ela tocou-lhe com a ponta da sandália no escaldão que ele tinha no tornozelo direito.
- Ai!!!! – disse ele – isso dói!
- Ah! Sim? – fez ela – e é bom que te doa, que é para a próxima vez não ires “acampar” para ao pé daquelas turistas em monoquini ... e depois... – desatou a rir.
- Qual é a graça? – rosnou ele - Primeiro não fui “acampar”, como tu dizes, para ao pé dumas turistas em monoquini. Segundo nem sequer as vi. Terceiro adormeci ao sol... e como tu não me tinhas posto o creme protector, como devia ser...Mas afinal estás-te a rir de quê?...
- Ainda perguntas? – fez ela, tentando suster o riso – Então vais para ao pé das “suecas” com as mamas ao léu...todo macho...e, adormeces...As “suecas bem se riram. Houve uma que até te salpicou com gin-tonic. Mas tu meu filho, roncavas que era uma dádiva celestial...Parecias um caracol, melhor dizendo, uma lesma assim estendido...
Durante algum tempo permaneceram em silêncio, depois ela sacudiu o açúcar da bola de Berlim que comia, gulosamente.
Algum açúcar caiu sobre a queimadura solar, da perna do homem, que entretanto começara a adormecer...

Formigas surgiram como que por magia.
Rodearam a manchinha de açúcar que lentamente se dissolvia no creme protector, nas gotículas de suor que lhe iam ornamentando a pele.
Lá longe no formigueiro, uma formiga dizia para outra – Vê lá tu, aquele estúpido, ainda ontem apanhou uma disenteria por andar a lamber suor daquelas miúdas brancas e louras e agora vai-se à queimadura daquele gordo, e lambe com o açúcar, o protector, o suor...e eu depois que o ature, que lhe tire as comichões, que lhe aperte a cintura, que lhe limpe as patas...
- Oh! filha – perguntou a amiga dando uma passa na sua palhinha de sésamo – isto de ser fêmea será sempre a mesma merda em todas as espécies?

Contos do Feeling Estranho