sábado, 22 de novembro de 2008

Adeus até ao meu regresso( Guerra Colonial - Parte II)

Já contei, algum tempo atrás, como foi a viagem no Niassa, de Lisboa até Nacala, em Moçambique. Mais de um mês de Mundo Cão...
Ao desembarcarmos, mandaram-nos vestir a farda camuflada e distribuiram o armamento.
Sentimos que, a partir daquele momento, ia passar a ser the real thing...
A seguir, os que se iam apresentar em Nampula, entraram num trem tipo faróeste e lá fomos nós naquele doce e calmo pouca terra, pouca terra tão soporífero dos comboios.
De tal maneira que o meu amigo, colega, perdão( colegas são as p...como se dizia na tropa),camarada António Santos( mais adiante entrarei em detalhes) se deixou adormecer e escorregou pelo banco, em poses pouco militaristas.
O comboio lá ia passando por entre pequenas aldeias, muceques, e as populções locais, de etnia macua, vinham junto aos carris saudar ruidosamente aquele acontecimento que quebrava as suas rotinas diárias.
O meu humor negro, que já me tem feito fazer muitas figuras tristes, não resistiu...
Abanei o António, que acordou estremunhado, e gritei-lhe aos ouvidos:
- Acorda António, que estamos a ser atacados!!!
O meu amigo, saltou de olhos esbugalhados, sacou da arma e precipitou-se para a janela...

Ao ver aquele mar de gente, em grande gritaria,
num lusco fusco que só deixava entrever sombras,
mais se convenceu de que eu falava verdade.
Entre gargalhadas, lá tive que o segurar,
e explicar-lhe o que se passava.
Uma maneira muito pouco ortodoxa de entrar
no cenário da Guerra Colonial...

Passado pouco tempo chegámos a Nampula.
Esta pequena, mas agradável cidade, era conhecida como A Bela,
A Feiticeira ou, numa versão menos optimista, O Cemitério dos Brancos.
Os soldados apresentaram-se no quartel mas a nós, milicianos,
foi-nos permitido pernoitar fora.
Permitam-me que faça, agora, um parênteses para apresentar
o meu núcleo mais próximo de amigos.
O António Santos, de que já falei. era o mais chegado
( seria, no futuro, Jornalista da RTP, e meu companheiro
nas experiências Jornalinho e Noites Longas do FM Stéreo),
o Adriano Nazareth, mancebo do Porto,
que no pós-guerra tornar-se-ia Realizador de Televisão
e. finalmente, o Nelson Gonçalves, o menos artístico do quarteto.

Jantámos os quatro no Café Portugal,
e de seguida, procurámos um local para a pernoita.
A Pensão Nampula, foi a escolhida porque além de não ser cara, tinha quartos com quatro camas, onde podiamos ficar todos.
Claro está que este vosso amigo deitou-se, de imediato, e preparou-se para dormir...
...porém, entretanto, o restante trio apercebera-se da imensidão de baratas, algumas voadoras, que pululavam na habitação
e começou na sua, tentativa, de exterminação,
esmagando-as de sapatos em riste.


Moi-même, que sempre fui uma boa dormida,
entreguei-me nos braços de Morfeu,
enquanto lá muito ao longe
se continuavam a ouvir as pancadas secas
dos tacões dos sapatos
nas paredes pintadas numa cor caqui.











No outro dia, quando acordei, depois de um sono reparador, olhei as paredes...
Pareciam estar forradas a papel, com centenas de insectos vários, esmagados em estranhos desenhos florais...
Pisgámo-nos rapidamente da Pensão, antes que nos fizessem pagar uma pintura nova.
E como dira o Solnado, dos velhos tempos, foi assim a minha chegada à Guerra.



Prometo, para breve, cenas dos Próximos Capítulos...
Adeus, até ao meu Regresso!!!



Nenhum comentário:

Postar um comentário