terça-feira, 4 de novembro de 2008

Mário-Henrique Leiria. Profissão:Anarquista

Só conheci o Mário-Henrique Leiria, imediatamente a seguir ao 25 de Abril, quando ele era Chefe de Redacção de O Coiso, suplemento semanal da República, onde eu colaborava, todas as semanas, com cartoons que, muitas vezes, eram aproveitados como capas da publicação.
Já nessa altura, a degenerescência óssea, que o mataria seis anos depois, estava num estado avançado, obrigando-o a apoiar-se numa bengala que era quase uma marca registada , e que ele utilizou como personagem ,em alguns dos seu sucintos e incisivos pequenos contos.
Aliás, a sua forma de escrever sincopada, eliminando o supérfulo e terminando, quase sempre de uma maneira inesperada, viria a influenciar, imenso, a minha própria maneira de contar histórias, salvo as devidas distâncias entre o imenso talento do Mário-Henrique e o meu jeitinho.

E já que falamos de histórias, aqui fica uma. Na altura, eu trabalhava em Publicidade, como Criativo, auferindo um salário bastante razoável, e a minha colaboração com A República era apenas pelo gozo de ver os bonecos publicados, já que o que recebia mal dava para o táxi que apanhava para ir até ao jornal.
Uma semana em que me pagaram dois ou três Cartoons, o Mário-Henrique chamou-me à parte, pôs-me o braço sobre os ombros e disse-me, comovido:"- Bem hoje, já vais poder comer uma sopinha!".
Este é o Mário-Henrique Leiria que eu guardei na memória, e no coração, e a quem deixo aqui a minha pequena homenagem.
Mário Henrique Leiria, nasceu em Lisboa ,em 1923, e aos 19 anos seria expulso da ESBAl, talvez por razões políticas ( o talvez explica-se, porque com o MHL nunca se sabia onde parava a Realidade e começava a Ficção).
Trabalha depois na Marinha Mercante, como Caixeiro Viajante , Operário Metalúrgico e Servente de Pedreiro (... e as minhas dúvidas continuam), viaja pela Europa e Norte de África, sendo detido pela PIDE em 1961, quando decide partir para o Brasil, de onde só regressa em 1970.
Publica, então, Os Contos do Gin Tónico e Os novos Contos do Gin Tónico, que alcançaram assinalável êxito e sucessivas edições.
Dá-se então a Revolução dos Cravos, e o período breve em que as nossas trajectórias se cruzaram.








MHL tinha um Humor Negro, gostava de provocar tudo e todos e espalhava os seus focos de interesse pela Poesia, pela Prosa e pela Pintura.
Viria a apaixonar-se por Fipsy,uma bela alemã, com quem casou e que, anos depois, farta das travessuras do marido, se quiz divorciar. Novo golpe de teatro, MHL cai da amores pela advogada da Mulher, com quem se envolve.
Em 1976, MHL adere ao PRP , Parido Revolucionário do Proletariado, seguindo as pisadas de um dos seus avôs, membro da Carbonária.
"- O meu Avô é que era um gajo porreiro e muito giro. Pertencia à Carbonária. De Segunda a Sexta Feira trabalhava, mas nos Fins de Semana fazia a Revolução. Ainda cá tenho o bacamarte que ele usava contra a Monarquia...".
Também o Mário-Henrique Leiria usou o bacamarte das suas palavras, ditas e escritas, para fazer a sua própria Revolução, contra o status quo, o imobilismo, as pessoas cinzentas , o convencionalismo.
Obrigado Mário-Henrique, e bebe um Gin Tónico, à nossa saúde,onde quer que estejas....

3 comentários:

  1. Os contos do gin são de morrer e ressuscitar logo a seguir, para chorar por mais... :)

    P.S.
    Johnny, volta ao teu post do Jamie, there's an update. :)

    P.S. Tens que desabilitar esta porcaria das letras no google_blog, é um saco e só os teus amigos é que vêem aqui, right ?

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  2. António, já tinha visto o update no Jamie e respondido, hoje de manhã.
    Desabilitar as letras, não faço a mínima ideia de como é que se faz, mas vou tentar saber.
    Quanto aos Amigos tens razão, mas hoje vêm os Amigos e amanhã, quem sabe? os Inimigos, que são muitos mais...

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  3. acabei agora de o escrever, go back ... :)

    P.S. o/a ggogle mudou o 'template', agora tb. não sei como se faz...
    Queria deletar o meu blog e já não consigo...

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