Postais de Luanda 3

"...Este passado sábado tive a minha primeira (não será certamente a última) experiência de negociação de “gasosa”.
Para os menos esclarecidos, “gasosa” é um complemento de salário, de reforma, ou simplesmente de um adicional para mais umas bejecas ao final do dia.
“Gasosa” é o que pedem os garotos de rua quando se estaciona, um funcionário de uma repartição, ou, neste caso, um polícia.

Aliás, no meu caso eram quatro.
Um colega do escritório, austríaco, tinha-se esquecido do telemóvel no escritório e pediu-me ajuda, pois não tinha chave para entrar.
Quando estava a tentar estacionar em frente da casa dele, parou ao meu lado um jeep da polícia (nem sequer era de trânsito), saiu um subalterno que começou logo a dizer que eu não podia estacionar ali e a pedir-me os documentos.

O mais graduado estava sentado no jeep tranquilamente. Fui conduzido até ELE, que nem sequer viu os documentos do carro, mas manteve o passaporte e carta de condução bem seguros. Disse que me ia multar em 22.750 kuanzas por não ter respeitado a lei (a dele, claro!).
Como eles não podem multar perguntou-me se eu queria ir atrás dele até à esquadra ou pagar a multa ali.

Já sabem qual foi a minha opção: pagar ali. Só que eu tinha percebido 2.750 e não 22.750 (o equivalente a 250 euros e não corresponde a nenhuma infracção ao código daqui, o máximo anda pelo 5.000 kunazas).

Quando lhe dei 3.000 riu-se e perguntou-me pelo resto. Foi quando eu percebi o valor total. Como apenas tinha mais uma nota de 100 dólares foi quanto me custou a “transgressão”:

100 dólares mais 3.000 kuanzas.
Dizem-me que é o normal! Lá terei que fazer um documento na empresa

para “justificar” esta despesa. E outras que se seguirão.
Podem pensar que este incidente tem contornos perigosos,

de modo algum, é apenas uma negociação, embora haja uma parte fraca, branca.
Desculpem não enviar fotografias da ocorrência, mas compreenderão o porquê!"

Enviado porPirulito142 (Our Man in Angola)