domingo, 30 de novembro de 2008

Jorge Amado e as suas(muitas) Mulheres

Para gostar dos livros do Jorge Amado não é preciso ter comido vatapá, bebido uma água de coco em Itapuã, assistido à passagem de um bloco carnavalesco, ter estado num terreiro de Santo, ou, muito importante, olhado com atenção o requebro de uma, ou mais, baianas da gema. Não é preciso...mas ajuda a compreender, e a gostarmos ainda mais.








As minhas primeiras leituras do Jorge Amado, não foram as suas obras mais populares.
Os Subterrâneo da Liberdade, em 3 volumes, e
O Cavaleiro da Liberdade, que antes fora baptizado A Vida de Luis Carlos Prestes, todos proibidos em Portugal, e lidos às escondidas, despertaram-me para a obra do grande escritor baiano e colocaram a semente daquele que seria um dos Amores da minha Vida- o Brasil.
Os livros eram muito realistas e politizados, com situações extremadas em que os trabalhadores eram sempre honestos, corajosos e viris e os capitalistas uns exploradores, sem escrúpulos nem moral.
Era a fase em que Amado pertencia ao Partido Comunista Brasileiro, tendo até sido eleito para um cargo governativo. Em 1956, o escritor abandonaria o Partido.






Jorge Amado nasceu em Itabuna, na Baía, e teve três irmãos que, à boa maneira brasileira, tinham todos a mesma inicial Jofre, Joelson e James.



Passou a infância em Ilhéus, a adolescência em Salvador, mas com vinte anos já vivia em Ipanema, no Rio.
Os seus primeiros trabalhos retratavam de um modo neo-realista as condições de vida do povo brasileiro. Cacau, Suor ou O País do Carnaval são bons exemplos dessa fase.
Seguiram-se Jubiabá, Mar Morto, Capitães de Areia, Terras do sem Fim e Seara Vermelha.
Todos estes foram editados pela Publicações Europa- América, tornando Jorge Amado o escritor brasileiro mai popular da minha geração.



E chegamos à época que originou este post.
Em 1958, na sua nova casa de Petrópolis, perto do Rio, já afastado da militância política, Jorge Amado escreveu Gabriela, Cravo e Canela, o seu primeiro livro em que a personagem título é uma mulher de grande força, o que traria uma nova graça e sensualidade à sua obra.
A primeira edição do livro foi de 100 000 exemplares, seguindo-se uma adaptação para a Televisão , que originaria uma telenovela de grande sucesso, com Sónia Braga na protagonista e
Armando Bogus no seu Nacib.
Anos depois, Sónia repetiria o papel no Cinema mas desta feita contracenando com Marcello Mastroianni.

Depois de Os Velhos Marinheiros e Tenda do Milagres, surge Dona Flor e seus dois Maridos, novo grande êxito, que Bruno Barreto adaptaria ao Cinema com Sónia Braga a fazer de Dona Flor e José Wilker e Mauro Mendonça nos maridos safado e bem comportado, respectivamente.
Entretanto Jorge Amado ia sendo homenageado com todos os prémios possíveis, recebendo a maior honra que um baiano pode ter- ser escolhido como tema carnavalesco por várias Escolas - Carnaval com Bahia de Jorge Amado, Jorge Amado , Axé Brasil e Tieta do Agreste, foram três desses enredos.


Vem depois Tieta do Agreste, boom de vendas e como já se tornava hábito, adaptação televisiva de sucesso, desta feita com Bety Faria( que seria substituida por Sónia Braga, sempre ela, na versão para Cinema).
Numa das minhas viagens ao Brasil, mais precisamente a Natal, tive ocasião de viitar as locações naturais em que as filmagens da novela
foram feitas.


Seguir-se-ia Teresa Baptista Cansada da Guerra, que sem se ter tornado uma personagem mítica como as suas antecessoras , não deixaria contudo de engrossar as hostes das Mulheres de Jorge Amado, belas, arrojadas, sensuais e atraentes, enfim, magníficas representantes das mulheres brasileiras.


A Fundação Casa de Jorge Amado em pleno Pelourinho ( onde este artolas que vos escreve , foi assaltado) é local de romagem dos muitos turistas nacionais e estrangeiros que aportam a Salvador.
Outra homenagem, mais popular e certamente mais do agrado do escritor, é ver os seu títulos espalhados por toda a cidade.
A Tenda dos Milagres e Os Velhos Marinheiros são nomes de restaurantes, Capitães de Areia um bar, numa cidade em que tudo, das comidas como a muqueca ou o siri de camarão, às caipirinhas, as músicas de Caetano ou Dorival Cayimi, as cores das casas e a sua arquitectura, o artesanato, a cuíca e outros instrumentos musicais, sem esquecer as belas baianas...tudo nos faz lembrar o grande seu Jorge ...














Guardámos para o fim, de propósito, a mulher mais importante da vida do Escritor - Zélia Gattai.
Amante, esposa, companheira de largas décadas, Zélia acompanhou-o sempre nos momentos de glória e também nos de exílio ou prisão, nos Prémios e na doença, nos êxitos, nos desgostos, e até, no prazer da escrita.
Saravá Jorge Amado, Saravá Gabriela, Dona Flor, Tieta e Teresa, Saravá Zélia Gattai...


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